30 abril 2011

Inesperado sol

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Um ondulado toque de campainha, vento esfregando-se em algo de metal pendurado, avisava que o trem atravessaria um pequeno túnel, atravessaria uma pequena escuridão de alegria, de felicidade, de emoção, de sair de si, Estelita apoiou sua mão sobre aquela no seu ombro, o padre reergueu a coluna, levantou-se, o gerente se aproximava, Luzia e seu neto também, e outros, o padre saiu sem falar palavra alguma, padre Marcos? Luzia perguntou ao cruzar com ele no quarto aproximando-se da cama sem esperar resposta, certa da execução dos cuidados que se exigiam a partir daquele momento, ele respondeu sim e se foi pelo corredor, saiu para o quintal, andou por ali, tomou um cigarro, pôs nos lábios e fumou apressado fazendo um movimento de pássaro, erguendo a cabeça como se olhasse para o céu, como se procurasse frutas, para soltar a fumaça, depois saiu para a frente da casa, cumprimentando um, cumprimentando outro, e foi pedir ao gerente que o levasse de volta, tinha suas coisas também para arrumar, suas despedidas a fazer, uma conversa com o bispo que buscaria ainda para aquele dia, o céu carregava-se de nuvens que anunciavam chuva para o fim do dia, Dias veio correndo, disse que o padre esperasse um minutinho, a dona do bar ali por perto olhava o padre como se não olhasse, dividindo-se, o rubor do seu rosto era ainda mais forte, resignação de um lado, sonhos de amor de outro, tudo amarrado num olhar manso e simpático, seu marido, o Barroso, controlava-se de um ódio que fazia brilhar seus olhos franzidos, media cada passo do Dias, logo veio a avó Luzia e abençoou o padre com um longo e apertado abraço, te conheço Marcos, desde pequeno, te conheço, e como se falasse a um menino bateu-lhe com carinho a mão no rosto e disse, vai com Deus, vai com Deus, vou, respondeu sorrindo, sim, tenho certeza, vou com Ele, despediam-se os dois do padre.

24 comentários:

Paula Barros disse...

Dauri,

Uma vez lendo Autran Dourado, ele falava de ler os grandes autores para quem deseja escrever...e eu sorri para Autran Dourado, e disse-lhe sorrindo, não pretendo ser escritora, os grandes são aqueles que mexem com a minha emoção e que a escrita me escreve....e entre tantos, leio Dauri. Acho que ele me entendeu. rsrsrs
Por enquanto não consigo caminhar nem com Saramago, nem com Antonio Lobo Antunes...mas ao ler o que você escreve, consigo alguns mergulhos, alguns voos, alguns respiros.
E ainda observo a sua técnica. Hoje me chamou a atenção a forma de trazer o nome do padre, a colocação de vários personagens nesta cena, entre outras coisas.


abraço!

Elcio Tuiribepi disse...

OLá dauri...por falar em expressões logo de cara m deparo com esta

"o trem atravessaria um pequeno túnel, atravessaria uma pequena escuridão de alegria, de felicidade, de emoção, de sair de si"

Muitas das vezes somos este trem...levando e trazendo felicidade

Um abraço na alma...bom domingo

Samaryna disse...

Dauri, a sua forma de escrever é tão realista que temos a sensação de embarcar neste trem. Um bom domingo. Deixo o meu afeto.

Paula Barros disse...

Para uma segunda-feira chuvosa, eu preguiçosa, é gostoso olhar estas flores amarelas, caindo assim, e lembram borboletas. Estas flores-borboletas amarelas parecem estar em movimento. É bom de olhar.

abraço

João Maria Ludugero disse...

Passe lá no meu blog.
Se gostar, me siga.
Felicidades, saúde
e alegrias duradouras, hoje e sempre. Já estou te seguindo.
Mega abraço iluminado.
João
www.ludugero.blogspot.com

Vivian disse...

...você é celebridade
lá em casa, sabia?

smackssssss, lindeza!

Wilson Torres Nanini disse...

Dauri,

trem de ferro me causa insônia, mas no fim vira só sentimento.

Texto dócil e cheio de confluências humanas.

Forte abraço!

Paula Barros disse...

O passarinho azul voou, voou, e vem as rosas dançantes abrindo ala para o final de semana passar.

bom final de semana! beijo

Luis Eustáquio Soares disse...

é como diz derrida, em os fantasmas de marx, a anacronia faz a lei aqui,
é sempre esse tempo fora do tempo, sua lisa narrativa nomadológica, máquina de guerra de um tempo a-vir, de vindo, devindo.
saudações,
l

Ilaine disse...

Senti aqui um corte. Padre Marcos deixou Estelita e vai-se embora. "Despedidas a fazer..." Beijo

Paula Barros disse...

Bom Dia!!!

Gosto de acompanhar esta história.

abraço especial!!!

Carla Diacov disse...

incrível tua montanha russa de lindezas...e sem enjoar!


beijo

fjunior disse...

Grande Dauri,

de volta... pena não ter pego o teu conto desde o começo

Ilaine disse...

Oi, Dauri!

Talvez você tenhavisto, mas eu havia comentado em todos os capítulos. No entanto, assim como em meu blog, meus comentários foram perdidos em consequência dos problemas do blogger. Fico triste! Beijo

Loba disse...

fazia tempo eu não vinha, né? hj resolvi tirar todo o atraso. tou ainda com a ida de Estelita. uma narrativa fluida de uma partida.
e a vida continua...
beijo!

Paula Barros disse...

Sinto a imagem linda (árvore, dois pássaros, palavras...).

Eu queria tanto a continuação do conto.

abraço!

Eu disse...

Dauri... Você faz parte da alegria que eu estou sentindo... Por essa razão conto com a sua presença em meu blog, participando do sorteio que será realizado!
Sinta-se carinhosamente abraçado.

Paula Barros disse...

Dauri, aguardo a atualização. Espero que esteja tudo bem.
Não gostaria que o conto tivesse fim, não por enquanto. E fico na expectativa da continuação.

abraço

fjunior disse...

Dauri,

estou às ordens! Tentei lhe mandar um mail, mas voltou. Entre contato pelo fjunior@gmail.com

Sueli Maia (Mai) disse...

Olá, Dauri,

me senti honrada pelo seu convite, plenamente aceito.

abraços

Paula Barros disse...

Dauri, conte comigo. Tenho interesse no tema, tenho interesse em colaborar.
Fico feliz e honrada.
abraço
Deixo o contato de e-mail. Mas pode utilizar o que achar mais fácil.
mpaula26@hotmail.com

lula eurico disse...

Oi, amigo,
vim te agradecer pelo convite.
Sim.
Estou à tua disposição para as "conversas".
Creio que hás de fazer um fecundo trabalho sobre o tema.

Abraço fraterno e sincero.

Carla Diacov disse...

‘Mas o amor, essa palavra...Moralista...Amor temeroso de paixões sem uma razão de águas fundas, desconcertado e arisco...’
Disse Cortazar sobre o amor, essa palavra de brasão e flor, MoralistaNada.
Beijos.

lula eurico disse...

Estou aguardando as nossas "conversas".
A quantas anda a tua pesquisa?

Estou ao teu dispor, Poeta.

Abç fraterno.