Inesperado sol
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Um ondulado toque de campainha, vento esfregando-se em algo de metal pendurado, avisava que o trem atravessaria um pequeno túnel, atravessaria uma pequena escuridão de alegria, de felicidade, de emoção, de sair de si, Estelita apoiou sua mão sobre aquela no seu ombro, o padre reergueu a coluna, levantou-se, o gerente se aproximava, Luzia e seu neto também, e outros, o padre saiu sem falar palavra alguma, padre Marcos? Luzia perguntou ao cruzar com ele no quarto aproximando-se da cama sem esperar resposta, certa da execução dos cuidados que se exigiam a partir daquele momento, ele respondeu sim e se foi pelo corredor, saiu para o quintal, andou por ali, tomou um cigarro, pôs nos lábios e fumou apressado fazendo um movimento de pássaro, erguendo a cabeça como se olhasse para o céu, como se procurasse frutas, para soltar a fumaça, depois saiu para a frente da casa, cumprimentando um, cumprimentando outro, e foi pedir ao gerente que o levasse de volta, tinha suas coisas também para arrumar, suas despedidas a fazer, uma conversa com o bispo que buscaria ainda para aquele dia, o céu carregava-se de nuvens que anunciavam chuva para o fim do dia, Dias veio correndo, disse que o padre esperasse um minutinho, a dona do bar ali por perto olhava o padre como se não olhasse, dividindo-se, o rubor do seu rosto era ainda mais forte, resignação de um lado, sonhos de amor de outro, tudo amarrado num olhar manso e simpático, seu marido, o Barroso, controlava-se de um ódio que fazia brilhar seus olhos franzidos, media cada passo do Dias, logo veio a avó Luzia e abençoou o padre com um longo e apertado abraço, te conheço Marcos, desde pequeno, te conheço, e como se falasse a um menino bateu-lhe com carinho a mão no rosto e disse, vai com Deus, vai com Deus, vou, respondeu sorrindo, sim, tenho certeza, vou com Ele, despediam-se os dois do padre.