Inesperado sol
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Lá do outro lado da baía, em ar de sol totalmente desimpedido, sobre o monte verde, branco como um anjo a plainar distraído sobre a terra e o mar, o Convento da Penha, e o olhar do padre que se levantou para lá era um olhar de quem queria estrada de beira de mar, passos em areias macias, cheiros silvestres e maresias, Augusto sentiu vontade de perguntar alguma coisa, não sabia o quê, aqueles desejos eram seus, talvez, o padre vencido pelos sacolejos voltou-se para a paisagem ainda com o livro aberto nas mãos, Augusto tentou descobrir que livro era aquele, fino para ser um livro de orações, manuseado tantas vezes que as tintas da capa marron já há muito haviam se dissolvido de letras em verniz para não ser um livro de reza das horas, e olhando para o outro lado da baía, mas como se no livro encontrasse aquelas palavras, o padre disse, "Senhora, cujo altar fica no promontório, rogai por todos os que estão no navio, os cuja faina tem a ver com peixe" e fechou-o com o dedo indicador marcando a página sob o ar de estranheza do Augusto, a reza era esquisita. Dias ia quieto, calado, pensativo, como se já tivesse dobrado sobre si as conclusões das vivências do último dia mas ainda não soubesse quem ser, o que ser, o que fazer no dia seguinte, o padre que já desistira de ler, já ia ficando tonto, disse, olhou para o exagero de chaves que penduradas da que estava na ignição, exatamente no momento em que Augusto vencendo o silêncio perguntou, o que padre? o que o senhor disse? as chaves pareciam tilintar anúncios, leve e suavemente, campainha de anúncios, nada amigo, repito aqui umas palavras ao ver o Convento da Penha, respondeu o padre ainda olhando as chaves, que exagero amigo!, por que tantas chaves, e tão velhas? riu um riso simpático, discreto, você concorre com São Pedro assim, e se sai vencedor!