Inesperado sol
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Tinha esperança, mesmo na negação do que desejava tinha esperança de um momento na ilha, e esta idéia nem lhe passara pela cabeça até que o gerente apontasse para lá com curiosidade, o que desejaria ele naquele passeio?, podia ser a curiosidade insípida de quem não tem o que fazer num domingo, ou não, um momento naquela ilha com o gerente, não queria aliar uma história com outra, a que vivia agora e aquela com o estivador, insuportáveis lembranças, mas gostava da ilha, misturava, dividia-se em vacilos, chamá-lo de Augusto, forçar nas palavras o primeiro passo da intimidade, ou senhor Augusto ou senhor gerente, mas os meninos traziam-lhe um alívio, um recado, uma contrariedade, os sentimentos se adensavam em junções, de través, os sentimentos sempre são travessas sobre as quais se colocam telheiros, sonhos de abrigo. Fala menino, o que houve, por que este desespero? Sua avó pediu pra você ir buscar o padre lá na igreja de São Pedro, dona Estelita está morrendo, disse pra você pedir ao gerente o favor de ir de carro, rápido, podemos ir também? falava o capitão já sem tanta ofegação, interessavam-se pelo passeio, ainda não se davam conta dos extremos da linha, tão vivamente seus novelos de vida estavam trançados, aglomerados de voltas e extensão, que não se davam conta das extremidades, do começo lá onde não sabiam, e fim, fim inalcansável e inexistente ainda, a roda gira, gira, as engrenagens não param, nem Santa Catarina consegue. Dias olhou para o gerente, este tinha os olhos naufragados, barco afundando em águas paradas não de calmaria, de placidez, mas da quietude de dias fortemente nublados quando as sombras das nuvens iludem de paz o embate, olhava para os meninos sem ouvir, sem se interessar pela agonia de morte daquela pessoa, mas logo, de salto, pos-se de pé e tomou a chaves, junto as quais tinha agregado a da ignição do carro e, vamos!, disse decidido, foi andando.