11 janeiro 2011

Inesperado sol

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As pessoas estavam ali em número bem maior do que pudesse imaginar num baile tão apressadamente organizado; as notícias de fato corriam rápido, não podia vacilar e nem podia esquecer sua condição. Cumprimentou os que por ele passavam, dispensou as gentilezas exageradas posicionando-se entre a firmeza e a simpatia e dirigiu-se ao balcão. Encostou-se, pediu sua cerveja e ficou de guarda das feições e movimentos de todos. A senhora do bar parecia outra, tinha remoçado pela maquiagem e pelos cabelos bem cuidados e os olhos pareciam mais vívidos, mas ainda assim ela escondia, ou tentava, nos entrecantos da voz, dos gestos, uma inquietude. Seu marido era da estiva, ele mesmo o disse na apresentação breve, com olhar oblíquo, a postura vulnerável de algum modo, apesar de acintosamente forte. É que a presença do gerente impunha ao homem uma postura, um controle de si mesmo, sabe-se lá qual, que deixava à mostra suas profusas ramas na maneira de esfregar aquele pano no balcão, um vaivém nervoso, não nervoso propriamente, mas exagerado nos intentos de limpar aquela superfície que não carecia mais de limpeza, a dar sinais de longas e ramificadas raízes subterrâneas.

2 comentários:

B. disse...

Que maravilha de se ler, apesar de começar a ler do final irei acompanhar esse conto, adorei a sua escrita, muito boa!
Beijos

Paula Barros disse...

Ontem li o texto, mas meu chefe estava junto, era um olho no texto, super curiosa e o ouvido no chefe...e para não ser desatenciosa, li rápido e fechei o blog.

"ficou de guarda das feições e movimentos de todos"

São trechos dos seus textos que eu me identifico, mergulho, e me misturo, e faz com que a história me prenda a atenção.

bjs