10 janeiro 2011

Inesperado sol

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Bem que poderia ter um paletó para ir ao baile, não tinha, mas cairia-lhe adequadamente a jaqueta ainda nova de couro marron escuro que trouxera na fuga junto com algumas outras básicas peças de roupa. Chovia e a peça lhe seria a solução para não chegar em mangas de camisa. A librina tinha se transformado em chuva, não das fortes, mas constante, e a temperatura já era bem amena, quase fria. Olhou-se no espelho e a lembrança levou-o outra vez para a casa da chácara; fora educado nas elegâncias, por assim dizer, pelas meninas de dona Irene; elas, que bem conheciam a transformação do moleque em homem feito, entre risos e trejeitos destituídos de timidez, davam as dicas, nem sempre acertadas, do que poderia ou não agradar aos olhos femininos, estas coisas do que falar, o que valorizar, que cheiro usar. Refinou-se no próprio charme com elas. Na verdade, além do que aprendeu destas etiquetas, de como se vestir, teve delas também como herança uma parte de alma, tinha um quê de feminino no modo de ver o mundo, sem perder contudo sua fama, e talvez isso explicasse seu sucesso com as mulheres, aquele rio de virilidade sem ostentação com um veio sinuoso de delicadeza. Perguntava-se ali olhando-se nos olhos o porquê de estar assim nesses momentos com a lembrança tão aguçada para a chácara. Queria lembrar-se de sua Rosimara, recriminava-se, mas a recriminação perdia convicção, era um esforço, uma lição disinteressante, sem nenhuma chance de ser assimilada, enquanto as outras, estas da casa da chácara, vinham aos borbotões.

4 comentários:

Paula Barros disse...

No texto abaixo também me perguntei sobre o surgimento das lembranças da chacará, me deixando curiosa sobre o que virá nos próximos capítulos.

Esta sua forma de escrever me deixa curiosa, porque fico atenta, na medida que vão surgindo novos personagens, novos pensamentos no mesmo personagem, novos cenários, para que eu não me perca, e observando como você vai "costurando" e regastando os fatos.

abraço!

Vivian disse...

...Dauri querido,
passando para dizer que
embora um tanto ausente
daqui, amo quando te
recebo em meu canto.

muitos beijos, lindo!

Anônimo disse...

além de um texto vigoroso e rico, uam história fascinante e o teu talento para escrever. garnde abraço.

fjunior disse...

feliz 2011, Dauri.