01 janeiro 2011

Inesperado sol

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Na sua mente surgiu o sol, por antecipação, o sol do dia seguinte, aquele que ele decidia viver. Tinha clareza, estava certo. Voltou-se da janela e foi para a cama, deitou-se e um leve sorriso se esboçou na  face enquanto encontrava a posição certa no travesseiro. Movimentou também a boca como a acertar os sabores, a lingua e os dentes para o sono. Voou para a velho bar e observou novamente aquela mulher. Perdeu-se dela e o que viu foi sua esposa, seu sorriso, seu jeito entre o tímido, o ingênuo, a dissimulação, voltou-se para a mulher do bar, pensou nela com um certo sentimento, um agrado lhe vinha daqueles lábios, ou do olhar, ou do jeito de gesticular num resquício de belezas, de encantos. Matara a própria esposa, mas agora seria o tal gerente, afinal não mais havia jeito para a morte e para o passado. Contentava-se em ser melhor, consolava-se com a possibilidade de ser melhor, ter dias melhores. Mastigou o que não tinha na boca, articulou palavras sem síbalas, movimentos primais, flexionou mais os joelhos, acertou as mãos unidas por baixo do travesseiro. Havia um cheiro ali na fronha limpa, um cheiro de bambuzal ao sol. Um dia visitaria o túmulo dela, em dia de sol forte. Veio-lhe esta idéia assim. Adormeceu.

3 comentários:

Jacinta Dantas disse...

Ei Dauri,

fui acompanhando o Inesperado Sol, imaginando em que condições se daria o Inesperado. Agora, vejo o homem/gerente, retomando a vida, imaginando o Sol a iluminar seu caminho, apesar da morte que carrega.

Beijo
(ando com saudade do Sol)

Lyani disse...

Oi Dauri!
Quanto tempo... estou em dívida, não só com você, mas com muitos dos meus leitores fiéis que vivem comentando no meu blog :(
Mas que maravilha voltar aqui e ler essas palavras... essapalavra que emociona, que inspira. Lindo como tudo que você escreve...
Obrigada pelo desejo de feliz 2011! Eu digo: pra nós! Com muita leitura e muitas palavras! :)
Bjoss

Anônimo disse...

ah...mas como preciso te ler mais...envolvente, sempre. abraços, Dauri.