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Olhou para eles com uma decisão inesperada, por ele mesmo inesperada, convocou-os para uma reunião daí a meia hora. Que reunissem quem eles pudessem avisar. Enquanto se dirigia aos que estavam no bar com palavras resolutas se perguntava a razão de se contrariar em seus intentos, já que o que queria e o que devia fazer era fugir dali, mas com aquelas palavras convocatórias sentia que se ia deixando prender. Sim, parecia ser isso mesmo, se ia deixando prender. Sentou-se, bem como se senta um gerente numa mesa, sentou-se ao lado da janela, o olhar altivo ao modo de dizer a todos ali presentes que ele sabia muito bem o que fazia e o que iria fazer. Depois voltou-se para a janela de onde podia avistar uma parte do porto e deixou o olhar cair inseguro sobre a paisagem, senão inseguro, vago e abatido decerto. Ali balançavam ancorados uns barcos que se prestavam a compor a tristeza daquele lugar com traçados de beleza. Não era o gerente, mas ia aceitando aquele velho porto e siderúrgica abandonada. O que seria fácil, virar as costas e se ir embora como fizera com tantos outros lugares por onde passara, não era fácil. Ele era tido por outro, e ser tido por outro dava-lhe a sensação de deparar-se ao andar ao lado do riacho em meio a brumas, muitas brumas em dia de inverno e chuvoso, com um inesperado sol . Já sabia o que iria dizer aos homens que viessem para a reunião, tudo lhe vinha fácil à mente.