Inesperado sol
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Eles chegaram com o almoço, com olhares de querer entrar nos velhos escritórios. Tomou ali na porta mesmo o que eles trouxeram, quatro pequenas vasilhas embrulhadas em panos de prato e colocou-as sobre os primeiros degraus da escada, despediu-os com um obrigado forçado na gentileza e fechou a porta sem que eles se arredassem dali. Queriam uma intimidade que ele até gostaria de lhes oferecer, mas não devia. A porta fechada fez com que esquecesse os meninos, subiu as escadas e tornou a descer para pegar o restante do almoço. Abriu um dos pacotes de pano, ali estava bordado terça-feira, um prato, a vasilha sobre ele, destas de plástico, continha costeletas de porco envoltas em maravilhoso perfume, abriu a outra, quinta-feira, trazia uma salada de pequenos tomates sobre algumas folhas de alface, a outra, segunda, uma boa porção de feijão e arroz, uma colher de farinha ao lado, na última, domingo, um pedaço de cuscuz branco com muito coco por cima e um belo filete de leite condensado em espiral, por fora, no mesmo embrulho, uma lata de coca-cola e os talheres. A visão da comida, o cheiro, a brancura dos panos de prato lhe acordaram para a fome. Comeu avidamente. Lembrou-se dela, não queria mas lembrou, o amor no cotidiano é belo depois, à distância. A lembrança encerrou o almoço, contraiu o rosto e levantou-se, tomou um pano de prato, o domingo, e levou-o às narinas, fechou os olhos, queria absorver algo daquelas fibras de algodão, uma alma talvez, a casa, o amor, a vida do dia a dia, o calor de uma cozinha, o tempo presente que agora não lhe pertencia mais. O passado o perseguia, e o futuro não amanhecia senão entre brumas.
Eles chegaram com o almoço, com olhares de querer entrar nos velhos escritórios. Tomou ali na porta mesmo o que eles trouxeram, quatro pequenas vasilhas embrulhadas em panos de prato e colocou-as sobre os primeiros degraus da escada, despediu-os com um obrigado forçado na gentileza e fechou a porta sem que eles se arredassem dali. Queriam uma intimidade que ele até gostaria de lhes oferecer, mas não devia. A porta fechada fez com que esquecesse os meninos, subiu as escadas e tornou a descer para pegar o restante do almoço. Abriu um dos pacotes de pano, ali estava bordado terça-feira, um prato, a vasilha sobre ele, destas de plástico, continha costeletas de porco envoltas em maravilhoso perfume, abriu a outra, quinta-feira, trazia uma salada de pequenos tomates sobre algumas folhas de alface, a outra, segunda, uma boa porção de feijão e arroz, uma colher de farinha ao lado, na última, domingo, um pedaço de cuscuz branco com muito coco por cima e um belo filete de leite condensado em espiral, por fora, no mesmo embrulho, uma lata de coca-cola e os talheres. A visão da comida, o cheiro, a brancura dos panos de prato lhe acordaram para a fome. Comeu avidamente. Lembrou-se dela, não queria mas lembrou, o amor no cotidiano é belo depois, à distância. A lembrança encerrou o almoço, contraiu o rosto e levantou-se, tomou um pano de prato, o domingo, e levou-o às narinas, fechou os olhos, queria absorver algo daquelas fibras de algodão, uma alma talvez, a casa, o amor, a vida do dia a dia, o calor de uma cozinha, o tempo presente que agora não lhe pertencia mais. O passado o perseguia, e o futuro não amanhecia senão entre brumas.