21 novembro 2009

O último porto do rio
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No pequeno escritório no segundo andar do armazém principal do porto é que escrevo as ditas cartas. Retiro delas o bem e o mal. Nelas me ocupo por um tempo, quando, acho, me permito ser o que não sou, ou, quem não sou. Tenho tido muito trabalho, pois que para mim viver tem sido trabalhar, e o tempo que durante o dia me sobra ocupo com as cartas. Mas se gasto tempo com as cartas, sendo sincero, nem é tanto tempo assim, pois que sou treinado na escrita. A maior parte, quando posso, e a despeito do olhar curioso e disfarçado do rapaz que me ajuda nos papéis, é olhando da janela para o rio e pensando pensamentos de futuros, outros, diferentes daqueles que vão se abrindo diante dos meus passos. Nas últimas cartas, pelos rascunhos que releio, percebo, ando forçando a alegria. O resquício desta empreitada se manifesta no tom de voz levemente alterado que surpreende os barqueiros e carregadores de sacas de café, sempre acostumados ao meu modo controlado de lhes dirigir a palavra. Quando dou por encerrado o dia já em noite fechada, como se tivesse trabalhado mais do que trabalhei, vou para o bar. A cada noite as ruas revelam-se em pesos turvos nos passo que dou. Ainda seria tempo.

7 comentários:

Ava disse...

Sabe que é o terceiro post que leio, em menos de três dias, que são cartas... Cada uma a seu moda, revelando um pouco de quem escreve...
Diferente maneira de falar de sentimenos tão únicos...

Como a emoção, saudade, solidão, tristeza, amor...angústia...

Acho que ando precisando escrever umas cartas..rs


Beijos, Dauri...

Dauri Batisti disse...

Querida Ava, aqui não estão as cartas. Ele menciona umas cartas.

Um beijo.

Vivian disse...

...morro de saudades daquelas
cartas deixadas na caixinha
do correio e meu coração
pulava de alegria quando
as recebia com cheirinho
do remetente.

sabia que alí estava um
coração embrulhadinho
em letras de bem querer.

hoje, recebemos emails,
cartas e cartões virtuais,
que embora nos enterneça
e alegre, não tem aquela
magia do pegar na mão,
sentir o palpável do gesto
puro.

bj, querido!


viajei por aqui...rsrsrs

Sandra Leite disse...

Meu querido Dauri

Obrigada pela força.Um carinho desmedido. Eu preciso disso nesses dias.

Força também com Essa Palavra. A poesia é o que fica.

beijos, poeta

Hugo de Oliveira disse...

Adorei...te desejo um ótimo final de semana,

abraços de luz e paz.



Hugo

Paula Barros disse...

Pelo que percebi, esse personagem pensa um pouco feito eu, no escrever, uma forma de se reescrever.

Eu e minha mente. rsrs Antes você escrevia "issos" e eu lia muitas vezes contos. Agora vejo um filme. E dá uma sensação boa aliar a escrita as imagens.

beijo

Sueli Maia (Mai) disse...

Mezaninos...cenário triste você plasmou com essa palavra.
Parece que tudo anda triste.

Um beijo