Localizar palavras viajantes,
na velha casa de janelas altas
é estranha tarefa agora, jogo serio.
Sombras de um cão atravessam o vidro
e se projetam sobre meu coração.
Movo-me de lugar. A sombra pega
no meu pé.
Uma incomum e benéfica presença no vitral
entrelaça corpos e sonos nos quartos,
vários sonos, os meus inclusive,
aqueles que ainda hoje vou dormir.
A volta da sala, a curva da escada
coloca-me ao telefone
por onde ouço uivos, longe,
talvez onde o que se quebra
seja exatamente o que
se hesita em quebrar: o verso.
O que foi deixado para trás,
na casa forma paredes e rachaduras,
belos quadros, retratos
que escondem o endereço
das verdadeiras palavras,
as que viajaram. Faz tempo.
No quarto de costura, atrás, uma luz de prata
desfia um suprimento de sedas,
pensamentos lentos, lã, aconchego
com muitas letras, de alguem
que me deseja encontrar. Acho
que uma rosa no jardim cheio de matos
anda derramando seu perfume, me embriago,
na ponta de um lápis torto
por onde seguem poemas cambaleantes.
Não passei pela cozinha ainda, mas, por agora,
boa noite. (O relógio canta onze horas).