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Não me apresso, ou sim, vou seguindo,
atravesso aguaceiros, e baques ( ou bosques).
O que sufoca
é a agonia de um dia que cai
como uma sombra crua,
ardente
(e fria ao mesmo tempo). Um ardor de medo
que vira gelo no centro do ventre.
Há trechos em que penso
que proseio
com incêndios versos de não ser
assim como sou, de querer ter o prazer
de ver e viver
o mundo com outro coração, só para saber
se alguma coisa muda, ou, se, muitas.
Não ter coração, ou senão, não ter estes
golpes
sofridos, resvalos e sonhos gravados
em palavras confusas. Caminho um parágrafo,
plátanos
ladeiam estradas, suspiro por um estranho país.
A primavera voltará, rezo, espero
e me encontrará. Por enquanto
pesadelos
me buscam, vultos. Meus vultos, outros,
inspecionam as sementes das flores debaixo da terra
e torcem,
e puxam para elas filetes de águas, esperanças
que não morrem. No seguimento das horas
o sol que me escapa, me engana com promessas
de renovos
azuis em outras manhãs. Por-se com o sol escondido
a escutar redemoinhos, pode ser um horizonte
de fronteiras,
ou esquinas, louquice, feitiços, ofícios para enganar
o medo. Bem. Breve, o mais breve possível
será bonito ganhar a estrada,
vagamundear.
A mão por enquanto se arrasta por palavras,
velhas frases arranjadas, óleo, pavio e chama.
Lanterna.
Nada mais que uma inusitada coragem por dia.
7 comentários:
Ziguezaguear na escuridão talvez seja a melhor forma de arriscar o que nunca se teve coragem e entregar até o desnecessário.
E esperar a manhã é esperança ou resultado de uma desilusão...
Abraços e bom final de semana.
Olá Dauri
Mas é essa coragem que se ganha na estrada, nessa "louquice" de ir.
Beijinho com sol de Abril
Isabel
Dauri
Sempre muito a ser dito, fico medindo as palavras.
Voltei, e ler você em casa me faz escrever, o que se derrama do não dito.
Tinha receio de ler o que li hoje, esse personagem, com esse questionamento - "de querer ter o prazer de ver e viver o mundo com outro coração, só para saber se alguma coisa muda, ou, se, muitas". Esse tipo de dúvida move, mas é preciso muito discernimento e clareza para perceber o melhor caminho. Assim penso.
Que passem os vultos, os pesadelos, o inverno de chuvas e tempestades...que venha a beleza da primavera, a luz do verão, a renovação do outono, sempre trazendo a paz interna, a todos nós e ao personagem.
um abraço de uma amiga que está próxima.
As minhas tentativas tem sido agora de descontruir os vícios e tentar perceber o esqueleto da palavra. E em princípio percebo q falas do vazio e do medo da morte. Uma chama já frágil que já se mantém acesa por óleo, na esperança de um amanhã mas pedindo apenas prá ter uma coragem por dia vivido.
Belo texto e moveu-me intensa emoção, esses versos de não ser mais, a chama viva da paixão. E a esperança de estar e poder saber o futuro.
Beijo.
arremates
matos idos
picadas dadas
ao deus-dará
rá
sol
um caminho
talvez
Abraço forte, Dauri Jack.
Continuemos...
e seguir pela mão da poesia é uma travessia boa de se viver. abrçs.
Poesias cada vez melhores.
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