18 março 2009

VIII

Ao acender a lamparina
para procurar um dos relógios perdidos
sinto no vento que vem
a sensação de uma flor da noite que se abre.
Na mente? Na mente, nos olhos, no espírito,
no jardim. Titubeante, situo-me entre
proteger a chama do vento que sopra,
distinguir o cheiro que vem
e lançar atentos olhares de busca.
As sombras formam frases
que cantam um amor perdido.
Um grito. Ouço. Ou penso que ouço
na mente, nos olhos, no espírito,
no jardim. Seja o que for, existe,
está aqui, tem perfume, ou fedor, ainda
não distingo bem.
Seja o desejo, a cegueira, o medo da morte,
o dissonante grito, o amor perdido, ou a flor.
Afinal, no poema, o que importa,
per aspera ad astra,
é a inexplicável procura de poesias,
busca sem fim pelos relógios perdidos,
aqueles que marcam a graça
de cada ordinária hora
do mais comum dos dias.

8 comentários:

Sueli Maia (Mai) disse...

Um deleite.
Em tudo haverá essa face...
O deboche, o riso, o suposto, o que é e o que poderia ser...
Do aroma ou do cheiro enjoativo, a suposição de um perfume de mulher ou de qualquer-quem que se aproxime...

E, ao final, outra busca...
Entre o real e o ilusório, o engano ou a certeza de ser aquilo ou nada daquilo...

Um beijo,

Mai

mundo azul disse...

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Quase sempre, não conseguimos definir o que vem... Daí tantos enganos, desilusões ou arrependimentos... É preciso estar cem por cento alerta!

Bonito!

Beijos de luz e o meu carinho...

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lula eurico disse...

A graça das horas do mais comum dos dias. Há poesia sim, nas minudências, no trivial e passageiro. Mas quem terá alerta todos os sentidos? Quem perceberá a graça de viver o dia, este dia? Entretidos que estamos em projetos futuros, atravessamos os dias com que somos agraciados, atravessamos a vida, sem perceber nela, a poesia. É aqui que venho buscar. Tb procuro, busca sem fim, pelos relógios que indicam a graça dos dias comuns.

Ava disse...

Quando não encontramos palavras, o que fazer?
Arrumar uma lamparina e sair a procura...rs
Palavras que definam vc, seus poemas, seu encanto!


Beijos!

Paula Barros disse...

É impossível ler você. Sem me emocionar. Sem dissecar. Sem me sentir.

Parei em lamparina e me perdi.

Lamparina me jogou longe. Fiquei pensando se sou do tempo da lamparina. De onde vem a sensação que já estive numa fazenda com lamparina? E lá vou eu para um guarda-roupa preto, cheios de roupas procurar o relógio também. Chego a sentir o frio da noite.

Ler o que você escreve me transporta, é isso, por isso me perco na leitura.

Depois vem essa frase - sinto no vento que vem a sensação de uma flor da noite que se abre.

E já fico sem condições de prosseguir. Escrevo paralelo.

O que importa no poema é que ele as vezes fala por nós, fala para nós, fala para o outro. E torna as horas menos ordinárias.


3h02 desta quarta-feira.

aguardo sempre a próxima, para sentir esse remelexo dentro de mim.

Paula Barros disse...

Ainda na madrugada tentando ler, abri um livro de Calvino, e dizia: Não se espante de ver meu olhar constantemente perdido. Este é mesmo meu modo de ler, e só assim a leitura me é proveitosa. Se um livro me interssa de verdade, não consigo avançar além de umas poucas linhas sem que minha mente, tendo captado uma idéia que o texto propõe, um sentimento, uma dúvida, uma imagem, saia pela tangente e salte de pensamento em pensamento, de imagem em imagem, num itinerário de raciocínios e fantasias que sinto a necessidade de percorrer até o fim.....

pg 257 Se um viajante numa noite de inverno.

Esse trecho me aliviou pela forma que leio o que você escreve, lembrei que Calvino me lembra você, por eu já ter lido você falando dele.

E assim continuei viajando....

tenha um lindo dia, com mais e mais idéias para escrever.

Messias Fernandes disse...

parabéns pelo blog e pelas palavras

trouxe nostalgia a minha mente...
eu gosto de nostalgia

valeuu

vi seu link no blog do átila siqueira

vou linkar ao meu blog

abraço e ótima quinta

Jânio Dias disse...

Relógios são o tempo, as horas, que escaparam de nós quando estavamos tão próximos de nós mesmos.

Abraço!