19 março 2009

IX
Continuando a série per aspera ad astra

A mão viaja estonteada rabiscando astros selvagens,
estrelas em revoltas de fogo no papel reciclado,
e topa pela frente com inesperadas letras perdidas de
antigas palavras impressas. Letras românticas,
sozinhas e desorientadas, viajantes
do século vinte, orgulhosas, sem consciência
de que não dizem mais nada.
Os astros rebeldes – o desenho é confuso –
girando fora de qualquer lei,
também podem ser radiantes pedras preciosas
a cumprir no papel funções de mistério.
O brilho dos astros ou das pedras
quando esbarra nas letras perdidas
forma ondulações e variações de ondas
que podem indicar ali, resquícios
de antigas forças de amor. Se bem que,
do mesmo modo podem indicar,
uma pedra estourada,
uma árvore serrada, ou
um animal sem paz, um pardal,
um búfalo, um javali, um bem-te-vi.
Há ainda outras possibilidades.
A mão por instantes sobrevoa o papel
na ignorância do melhor risco a traçar
e definir o desenho. Subitamente desce
e desenha espíritos benfazejos,
mãos segurando chamas ao modo
de antigas lâmpadas romanas de óleo.
Mas o olhar descontenta-se. Propõe nova folha,
áspera, cinza, aberta,
e conduz a mão para traçar o amor,
per aspera ad astra,
como última e poética paisagem.

9 comentários:

Anônimo disse...

lembra-me releituras de cartas de amor passadas e futuras.
amo viajar nas letras....

Sueli Maia (Mai) disse...

Dauri, amigo,
nesse texto eu viajei por mais que duas cenas.
Primeiro meus sentidos registraram a expressão 'astros selvagens' e 'astros rebeldes'...
Ai o meu decode foi à James Dean e ele sendo esboçado em uma folha de papel...

...Depois minha percepção cuidou das imagens de pedras preciosas, joias em seu design e o brilho das lapidaçoes sendo concebidas no papel...

...Por fim todos os argumentos foram transportados para folhas de papel sendo queimadas e na borda, com o fogo, as formas dando contorno aos astros celestes disformes. As bordas do papel queimada e tomando novas formas e outra e mais outra...

Bárbaro!
Pode ser que tenhas pensado em muitas outras coisas quando escreveste, eu si.
Palavras são palavras e só tu sabes em que pensavas ou o que fazias quando escreveste este texto.
Mas gosto de saber o que percebem os leitores.
Por isto eu escrevo o que percebo.
Incrível o que esta tua série tem me feito perceber e construir...

Beijo,

Mai

Dauri Batisti disse...

Mai,

estou falando de insignificâncias, então falo de um desenho sobre um papel de embrulho, papel reciclado em que aparecem letras perdidas do papel de antes, um velho jornal talvez. Desenha-se estrelas,astros que também podem ser pedras brilhantes. O desenho é confuso. Adiante o desenho se transforma em desenho de espíritos e mãos em chamas. Mas o desenho não agrada, e a sugestão do olhar é desenhar amor.

É claro que escrevo de modo a oferecer vários barcos para o leitor. Cada um embarca no que escolher.

Beijo.

Beto Mathos disse...

Caramba!
Tanto tempo estive fora e agora volto no IX.
A foto é surpresa, sua bela escrita também o é.
Abraço.

Ava disse...

"sobre espinhos até as estrelas" ..."

Bem interessante! Faz sentido...rs

Dauri, vc realmente é enigmático...
Decifra-me ou devoro-te...rsrrs

Em que barco seguirei viagem?
Acho que vou fazer várias baldiações...

"E conduz a mão para traçar o amor!"
Preciso costurar meus retalhos, e então terei o todo!
Seus poemas são cheios de graça e leveza!


Beijos e carinhos!

Menina do Rio disse...

Mãos que desenham sentimentos...

Um beijo

Dois Rios disse...

A mão viaja nas insignificâncias da vida que se redesenha, se recicla e se torna outra sendo a mesma.

Beijo, Dauri,

Inês

Vivian disse...

...Dauri querido,

vim trazer carinhos.

...20 de Março dia dos blogueiros!!!

pois e não é que inventaram
um dia para nós os blogueiros
sem cura?!!
rss

algumas pessoas criam seus blogs
apenas para passar o tempo.
outras com a idéia de mostrar
seu trabalho, outras ainda,
para encontrar amigos, fazer
amigos e até encontrar amores,
por que não?

não importa a maneira,
importa sim que estamos
aqui a cada dia trocando
energias, emocionando-se,
e fazendo emocionar por
meios de um simples ecrã
que toma vida quando
colocamos nosso
coração em contato com os
amigos muitas vezes sem rosto,
mas que conhecemos a alma,
esta que, ao contrário das
plásticas ilusórias, não tem
poder de mascarar-se, e que
portanto, no decorrer dos posts
e suas qualidades, deixam-se ver
como realmente é, que espírito
habita este ser, quantas afinidades
podemos encontrar com ele por aqui
num simples teclar, ou toque de
mouse.

este é o poder dos blogs.
o poder da internet unindo
pessoas por um fio.
uma fina rede de fios,
permitindo que teias invisiveis,
levem à cada coração sintonizado,
as melhores e mais doces emoções.

feliz dia à todos nós,
blogueiros sem cura.
rsss

Jânio Dias disse...

As estrelas podem queimar, os astros podem explodir, mas as mãos que carregam tochas para iluminar os caminhos da vida sempre vão preferir as letras a, m, o, e r.

Abraço!