30 março 2009

V

Talvez encerrando a série OVNIS

Desligou o computador e foi até à janela.
Sempre se escuta por dentro o ranger dos dentes,
mas difícil é escutar a íntima voz que diz
o que é certo fazer da vida. Fugaz.

Observou o céu e não viu estrelas nem lua.

Precisava entender e explicar as coisas
e o rumo da vida. Continuou na janela
esperando talvez sossegar um mar. Fumar talvez.
Os olhares nem sempre longos, mas afiados,

lhe faziam águia para a visão da dureza e da dor dos dias.

Olhava em curvas, como a recolher esperanças
no perfil dos prédios. Foi quando se deu conta
de algo estranho no cenário tantas vezes contemplado,
uma luz vermelha em movimento. Olhava sempre

para os mesmos lugares como se buscasse pelos olhos

o que se encontra só pelos mistérios. O que ele queria?
Nem balão, nem helicóptero, nem avião.
O vento fazia panos esvoaçantes das nuvens
que rapidamente encobriram a estranha luz.

Recuou da janela. Pensou em deitar-se mesmo sem sono.
O pó de que se é. Medo. A luz da madrugada
e um nada, um imenso nada. No centro
do quarto ficou parado perguntando-se

de que teria sido feita a vida. Perdido. Onde estaria

o mapa da jornada. Nem o céu, nem ninguém respondia.
Voltou para a janela e deparou-se com uma nave esférica
a uns poucos metros. Era um ovni. Não havia
como negar. As flores e poesias agradam aos delírios noturnos,

mas seu jardim estava desnudo, vazio. O poeta inventa,

mas outra era a angústia, outro a passagem e a sina,
sem nenhuma margem para invenções. O que queria
era uma agulha magnética. Seria um equívoco a vida?
Ao acordar viu que o dia, o longo dia, mais longo que a noite,

jogaria tudo, inclemente, bem em sua cara.

28 março 2009

Esta série "OVNIS" tenta, nestes meus caminhos avessos de poesia, ligar o ordinário da dor com extraordinarios eventos, a angústia cortante do cotidiano com os vislumbres das coisas do céu. E, além disto, outras coisas. Obrigado aos que me seguem nestes caminhos estranhos e aos que me deixam comentários.

IV

Andava de bicicleta na estrada da praia
desprendendo com o olhar a lua do céu
para aliviar-se das preocupações. Perdera o emprego.
Brigara com a mulher. Ouvia ecos de antigas risadas e crenças.

Agora a dor. A vida pode impedir a arte.

A vida obriga, impõe caminhos, realidades.
Palavras secas, copos vazios, olhos ardentes
tomam o tempo, desgastam os passos.
Logo, devia declarar a si mesmo o fracasso

e o pequeno tempo de vida de um amor bonito...

Parou a bicicleta, pousou o pé no chão por um instante,
olhou o fio minguante da lua e pensou em compor um poema
de desabafo, de águas de poços bem fundos e escuros.
Neste momento viu no céu um objeto voador,

luminoso, diferente de qualquer coisa conhecida.

Um tempo novo estaria começando?
O disco girou lentamente e aproximou-se.
Viu janelas, portinholas com luzes diferentes.
Portas sucessivas cerravam-se para ele,

sem emprego, sem dinheiro, poucas condições para amar.

Mas um pequeno pássaro amarelo de sol
estava sempre pronto a voar, mesmo que
a gaiola a cada dia parecesse menor. Sentiu
uma pressão na cabeça com a luz forte muito próxima.

O que acontecia era tão cortante, frio.

Recebeu mentalmente uma ordem.
Substâncias de estremecimentos e silêncios
pareciam escorrer pelos seus pensamentos.
Sua mão tremia tomada por uma força inteligente,

mas destituída de qualquer sorte de amor.

Então perdeu a consciência.
Ao acordar seu coração estremecido surpreendeu-se
de um papel que tinha na mão. Nele sem saber como
um poema estava escrito, a letra era a sua, mas o poema...

...era tão sem graça.

26 março 2009

III

Tinha uma longa viagem pela frente.
Admitir o fim do casamento era difícil.
Caminhoneiro desde muito tempo,
pensou num grande cavalo voador

para ir logo, voltar e abrir o jogo.

Dizer a verdade. Era tarde, mas já era hora.
Aproveitaria a noite para adiantar-se no caminho,
o que mais haveria de querer a própria alma?
Bem longe um pneu esvaziou-se. Parou para trocá-lo.

O incompreensível fazendo suas exigências.

A estrada já distante e os pensamentos longos,
os sentimentos circulando em redemoinhos,
procurando palavras pra dizer que tudo acabou,
que já vivia outro amor há um bom tempo.

Alta madrugada. Uma longa reta em pequenas ondulações.

Quando se deu por si, logo ali, ao lado do caminhão parado,
um objeto estranho, luminoso, subia e descia, ia e vinha.
Ele sabia, tinha certeza, era uma nave espacial.
A luz do amanhecer vinha longe

e o medo bem perto. Sentiu,

algo iria acontecer, de ruim talvez.
Quando acordou, três dias depois,
a vertigem longa não apagara as impressões
do contato com mundos tão misteriosos.

Estava na cama de um hospital,

a alma tocava-se de estranhos sentimentos,
distraindo-lhe de outras marcas. Por um tempo.
Mas logo percebeu uma ardência nos testículos.
Levou rapidamente a mão até o meio das pernas.

Lá estavam os dois bagos.

23 março 2009

II

Ele gostava de fotografar pássaros,
sussuros poéticos de um amor perdido,
espaços vazios. Somente nadas, além dos pássaros,
desde que ficara viúvo.

Havia dormido mal.

Parou um instante
naquelas paisagens de desolação
perto da ponte e
viu um enorme objeto no ar.

Objeto de algum desígnio

que não entendia qual.
Suspirou imóvel e atento.
Uma típica nave extraterrestre.
O sentimento foi

obscuro e oprimi­do.

Aquela era uma gelada manhã de domingo,
o estômago encolheu-se, retorceu-se
de um frio esquisito, medo, espanto.
Pegou a câmera

e logo conseguiu tirar uma foto.

Recuou um passo, olhou para os lados
procurando por outras pessoas.
Não conseguiu invocar a própria inteligência.
Na gelada manhã as feridas eram mais pungentes

e desejou fortemente interromper

os pensamentos que seguiam irracionalmente
na direção do rio, da alta ponte,
para o mesmo ponto de onde ela se lançara.
Quando voltou a olhar para a frente

o objeto voador já havia desaparecido.

Queria esquecer para sempre o que sentira quando soube
do corpo encontrado quilômetros abaixo
entre galhos e entulhos. Durante as noites
ainda chorava apesar de tudo já ir tão longe.

22 março 2009

I

Arquivos oficiais secretos por muitos anos
naquele distante outono que caía
no refrão daquela velha canção que ninguém esquecia
revelaram relatos de uma mulher sobre ovnis.

Ela pulava sobre flores nos próprios pensamentos

enquanto seguia com seu cachorro pelo parque.
Ela nunca sorria, mas sorria enquanto pulava sobre flores
no pensamento. Inesperadamente aconteceu. Rosas
rubras com bordas alaranjadas brilharam

bem diante dela. A partir daquele dia

as horas se esvaziaram, a solidão aumentou.
Ninguém acreditava. Mas havia um projeto do governo,
um projeto de muitos anos, com muitos documentos,
os seus relatos e muitos outros. Nada se confirmou,

nem um sinal, nem um rastro, nem um perfume,

ou odor de outro planeta e ETs.
Ocorreram-lhe pensamentos sem entender
sobre amores desgostosos e fugazes. Vida
que ela nunca viveu, amores intensos. Dias que caiam

e se iam. Mas ela viu. Ela viu um homem, ela tinha certeza.

No entanto, agora, preferia usar a expressão teria visto.
Sim, teria visto um homem que saiu de um objeto
brilhante e esférico, e veio em sua direção
e lhe falou em inglês com sotaque de escandinavos.

A nave poderia ser só uma rosa de pétalas rubras
e bordas laranjas. Mas rosa tão grande! As emoções
permanecem e as naves se vão. Viram luzes.
As coisas mudam, um vaso chinês se quebra e ela,

ela somente passeava com seu cachorro em um parque.

Haviam viajado para a Terra de outro planeta,
foi o que um deles disse sem poder dizer. Poderia ela
encontrar um amor e viver sem ver coisas do céu?
Mas ja tinha escrito uma carta para a Força Aérea.

21 março 2009

XI
Encerrando a série per aspera ad astra

Fim das rosas, os espinhos secam,
tornam-se mais pontiagudos; outra florada
é incerta. Dias que se anunciam
com esplendor logo são séculos passados,
sombras quebradas de um jardim tomado pelo mato.
A vida floresce linda demais em rosas amarelas,
até se pode crer que o vergel será sempre florido.
O sol se levanta como se a tarde só fosse
um capítulo a mais de uma ficção que se lê
em horas vagas. Mas, olhando bem, se vê,
sim, se vê, se percebe, se reconhece paisagens,
paisagens que escrevem naturalmente
o fim das rosas, e os espinhos...
O sol segue em declive para a despedida do dia,
destinos de adeus que nunca cessam. A lembrança -
rosas, pessoas no jardim, sorrisos - forja
pensamentos mutantes em torno do mesmo ponto:
per aspera ad astra. O coração cheio de mundos,
volta-se para o horizonte já bem anoitecido,
e apoia o olhar nas estrelas.

20 março 2009

X

No caminho em que procuro poesias
extravios de olhares e amores
me deixam suscetível
ao poder de ventanias
que me lançam contra muros
onde me ralo em ásperas paredes.
Daí uma possível explicação
para o que escrevo,
...e para estes mundos que me aparecem.

19 março 2009

IX
Continuando a série per aspera ad astra

A mão viaja estonteada rabiscando astros selvagens,
estrelas em revoltas de fogo no papel reciclado,
e topa pela frente com inesperadas letras perdidas de
antigas palavras impressas. Letras românticas,
sozinhas e desorientadas, viajantes
do século vinte, orgulhosas, sem consciência
de que não dizem mais nada.
Os astros rebeldes – o desenho é confuso –
girando fora de qualquer lei,
também podem ser radiantes pedras preciosas
a cumprir no papel funções de mistério.
O brilho dos astros ou das pedras
quando esbarra nas letras perdidas
forma ondulações e variações de ondas
que podem indicar ali, resquícios
de antigas forças de amor. Se bem que,
do mesmo modo podem indicar,
uma pedra estourada,
uma árvore serrada, ou
um animal sem paz, um pardal,
um búfalo, um javali, um bem-te-vi.
Há ainda outras possibilidades.
A mão por instantes sobrevoa o papel
na ignorância do melhor risco a traçar
e definir o desenho. Subitamente desce
e desenha espíritos benfazejos,
mãos segurando chamas ao modo
de antigas lâmpadas romanas de óleo.
Mas o olhar descontenta-se. Propõe nova folha,
áspera, cinza, aberta,
e conduz a mão para traçar o amor,
per aspera ad astra,
como última e poética paisagem.

18 março 2009

VIII

Ao acender a lamparina
para procurar um dos relógios perdidos
sinto no vento que vem
a sensação de uma flor da noite que se abre.
Na mente? Na mente, nos olhos, no espírito,
no jardim. Titubeante, situo-me entre
proteger a chama do vento que sopra,
distinguir o cheiro que vem
e lançar atentos olhares de busca.
As sombras formam frases
que cantam um amor perdido.
Um grito. Ouço. Ou penso que ouço
na mente, nos olhos, no espírito,
no jardim. Seja o que for, existe,
está aqui, tem perfume, ou fedor, ainda
não distingo bem.
Seja o desejo, a cegueira, o medo da morte,
o dissonante grito, o amor perdido, ou a flor.
Afinal, no poema, o que importa,
per aspera ad astra,
é a inexplicável procura de poesias,
busca sem fim pelos relógios perdidos,
aqueles que marcam a graça
de cada ordinária hora
do mais comum dos dias.

14 março 2009

Continuo falando insignificâncias. Inversos tristes. Deboches. Per aspera ad astra. Ficção. Não se esqueçam. Crio personagens, elaboro suas falas. Poemas não são necessariamente confissões; os meus são muito mais ficções. Ficções que passam pela minha mente e pelo meu coração. Conscientemente escrevo inversos. Ando procurando caminhos contrários aos dos versos, das poesias. Falo insignificâncias, tristes insignificâncias . Prometo uma NOVA SÉRIE mais "normal". Obrigado pelas visitas e comentários.

VII

A porta do armário estava aberta, amor,
levemente aberta,
e o infinito entrava por entre os tecidos.
O vento que soprava não tinha poder de fechá-la
ou abri-la, de vez. Ele tocava
nas mangas das camisas em suaves movimentos,
bandeiras cansadas dos territórios do corpo,
das lutas dos dias. Quis gritar por ti. Mas não,
não te chamei. Prestei atenção.
Um instante de universo atravessou
com o meu próprio olhar a fundura do espaço do armário
alojando ali, por detrás das roupas,
um lago, imenso lago, quase um mar
de águas mornas e sem marolas.
Um vento mais forte não veio
e tudo ficou imutável por um longo, longo tempo.
Olhei. Desejei um alento, um ímpeto, um impulso.
Nada. Tive a impressão de que em algum lugar do mundo
uma paixão se esvaía por causa da porta do armário.
A paixão se esvaía por ali, pelo universo que
se expandia no vão da porta.
Quis impedir, levantando-me para fechá-la,
não consegui. Eu não tinha forças. Repeti, como oração,
a frase per aspera ad astra. Sem efeito algum.
Desejei o mistério daquele momento
para pensar para ti, meu amor,
um poema lindo. Nada. Só o cansaço,
o torpor, o sono sem dormir, as lâminas afiadas das horas,
o calor, o vulgar dos dias, o ordinário
proclamando seus deboches.

13 março 2009

prosseguindo com a série Per aspera ad astra

VI

O pé sobre a cadeira,
a lembrança dos teus olhos tristes,
o impulso como ato de amor,
a mão erguida
tocando asas invisíveis,
desatarraxando a lâmpada queimada
por acreditar em desejos, sonhos, coisas novas,
luz. A outra lâmpada no bolso,
sobre o coração,
com seus filamentos intactos que logo
serão incandescentes.
As coisas ficavam mais bonitas
pelos teus olhos tristes
e densos, talvez tristes de amor,
que eram capazes de enxergar e mostrar
o que mais ninguém via.
Há tempos brilhava esta lâmpada nesta sala
... ainda estavas aqui.
Olhos tristes de amor... podem ser?
Hoje pondo outra luz no lugar
caio no escuro da falta, no claro
da saudade que me faz te rever
no comum dos dias, em cenas vazias. Dirão:
versos desconexos. Direi:
versos mentirosos, inversos, protestos,
per aspera ad astra, coisas
insignificantes, a troca de uma lâmpada,
um ponto de dor, aqui, bem aqui,
aonde agora coloco a luz que se apagou,
no bolso da camisa
sobre o coração. Desço da cadeira
aperto o interruptor, a sala se ilumina. Amar
é tão difícil, viver sem amor
será mais ainda.

11 março 2009

Per aspera ad astra, pelas aspereza às estrelas, continuando no deboche de mim mesmo,
do que escrevo, dos versos que não são versos, ... Obrigado, amigos, pelos comentários.
Ando abarrotado de rascunhos, de idéias, mas com preguiça de fazer acabamentos e postar.
Meu carinho é certo, mesmo que sem navegar nestes dias pelos blogs dos amigos. Um beijo.


V

Olho, no claro voam os peixes,
no escuro nadam os gansos,
Escher elabora poesias e simetrias.
Paro, antes de existir o jardim só existiam
o céu e a terra. Não sei quando, no chão,
no pó seco e resseco
surgiu sem propósito, ou por milagre,
um rio. O rio
abriu um canal, criou um barranco
úmido e lodoso, donde, num belo dia,
por um raio talvez, caiu um torrão.
Um torrão. Caí, nasci,
saí, me desbarranquei.
Acordei de mim, me vi imagem
das coisas do alto, das de baixo também.
Eu não sou eu, sou a imagem.
Sou sendo a imagem. Não sou. Confuso. No claro
voam os peixes, no escuro
nadam os gansos,
me vejo assimétrico e tonto.
Me convenço, por raciocínio, que sou bom, sou feito
de um torrão de um barranco de um rio de um jardim.
Repito: sou de um torrão de um barranco de um rio
de um jardim. As flores e todas as belezas
surgiram comigo, depois de mim,
pois que dei nome para cada capim:
capim santo, capim meloso, capim cidreira,
capim colonial, capim brachiária, capim roseira
capim orquídea, capim poesia, capim doideira,
capim amor, capim humildade, capim natura, capim cultura,
capim eu, capim você. Sopra um vento
passa um tempo, o capim que vicejou logo secou.

Ai, a palha queima. Me queimo antes, de amor.
É o que vale a pena... vale a palha... a vida.

07 março 2009

Encontrei no livro Um retrato de artista quando jovem de James Joyce (editora Alfaguara, página 201) a expressão Per aspera ad astra e tive a idéia desta nova série. Pelas asperezas às estrelas. Não acredito em inspiração, nem me considero poeta, nem sonho em publicar livro de poemas. Escrevo asperezas (inutilidades, insignificâncias) como deboche de mim mesmo, da minha mania de escrever em forma de versos (estrelas).

IV

O teclado
e a chave do carro ao lado.
Teclado e chave,
sinais de estradas, jornadas,
espírito de águia, às vezes asas quebradas.
Asperezas doem em cada dígito,
espadas, facas, punhais,
galáxias e pessoas em cada letra.
Amor, amar mais, talvez, sair por aí.
O que fazer? O teclado ou o volante?
Pegar o carro e ir pela beira do mar afora,
agora, embora a dor siga
junto. Nada melhor do que dirigir por aí,
escrever talvez.
Escrever caminhos na estrada, horizontes,
pássaros e voos. Te encontrar.
Escrever um coração nas asperezas
sem querer publicar livro, escrever para viver,
para reencontrar o rumo, para voltar e tornar a ir,
escrever alguém esperando o sol,
o sol mais lindo da vida,
sair por aí, pela beira do mar afora
encarando o sol e o dia, e ser feliz assim.
Te encontrar.
No ouvido dói
o coração. Poesias pontiagudas,
espadas, facas, punhais,
Bruce Springsteen canta
Working on a dream. Ir.
Te encontrar. Talvez.

03 março 2009

III

Nada. Só um leve soprar de vento.
A página indecisa. Virar-se ou não.
A página leve, seca, a ponto de rasgar-se
ou desfazer-se em cinzas. Livro de atas,
outra era a imagem antes,
páginas densas de palavras,
relatos de ganhos, lucros. Nada.
Nenhuma flor. Atas.
Contas que não contam mais.
Glória do passado é nada.
A capa preta com letras douradas
no chão. Papelão. O vento soprando
e a página indecisa entre virar-se ou não,
ou rasgar-se, folha seca no vento levada
pelo pátio em meio à sucata,
velha fábrica,
galpões do século vinte.