V
Talvez encerrando a série OVNIS
Desligou o computador e foi até à janela.
Sempre se escuta por dentro o ranger dos dentes,
mas difícil é escutar a íntima voz que diz
o que é certo fazer da vida. Fugaz.
Observou o céu e não viu estrelas nem lua.
Precisava entender e explicar as coisas
e o rumo da vida. Continuou na janela
esperando talvez sossegar um mar. Fumar talvez.
Os olhares nem sempre longos, mas afiados,
lhe faziam águia para a visão da dureza e da dor dos dias.
Olhava em curvas, como a recolher esperanças
no perfil dos prédios. Foi quando se deu conta
de algo estranho no cenário tantas vezes contemplado,
uma luz vermelha em movimento. Olhava sempre
para os mesmos lugares como se buscasse pelos olhos
o que se encontra só pelos mistérios. O que ele queria?
Nem balão, nem helicóptero, nem avião.
O vento fazia panos esvoaçantes das nuvens
que rapidamente encobriram a estranha luz.
Recuou da janela. Pensou em deitar-se mesmo sem sono.
O pó de que se é. Medo. A luz da madrugada
e um nada, um imenso nada. No centro
do quarto ficou parado perguntando-se
de que teria sido feita a vida. Perdido. Onde estaria
o mapa da jornada. Nem o céu, nem ninguém respondia.
Voltou para a janela e deparou-se com uma nave esférica
a uns poucos metros. Era um ovni. Não havia
como negar. As flores e poesias agradam aos delírios noturnos,
mas seu jardim estava desnudo, vazio. O poeta inventa,
mas outra era a angústia, outro a passagem e a sina,
sem nenhuma margem para invenções. O que queria
era uma agulha magnética. Seria um equívoco a vida?
Ao acordar viu que o dia, o longo dia, mais longo que a noite,
jogaria tudo, inclemente, bem em sua cara.