(vou seguindo com a série “Um mundo numa cozinha”.
É, este é o nome que escolhi. Depois da série com números,
optei por escrever escancaradamente sobre sentimentos.
Eis o pequeno menino sentindo suas coisas... numa cozinha).
III
Esgarçava-se o véu do dia,
fiapos leves voavam, pelos de flor,
paina seca no vento macio.
Como não sofrer? Tudo se ia.
Suavemente o dia, girassol
que pesa ao fim com sementes untuosas
alquebrado pelo fogo e pelo céu.
Recordar o pintinho que jubiloso eu ajudara
a romper a casca,
o bezerro com remelas nos olhos
que eu acariciara,
a corrida a levantar uma galáxia de gotas
no raso arenoso e espraiado do córrego
em nada ajudava. Eu sofria,
logo antes do por do sol, logo depois do por do sol.
Tudo se ia suave e impiedosamente.
Minha mãe nunca vinha.
Encolhido na soleira da porta
acabrunhava-me em meus frios.
Me deixavam quieto. Sabiam. Eu não.
Depois me colocava perto do fogão
e mexia nas brasas. Puxava uma ou outra para fora
e me entretinha com o vermelho que se empretecia.
Uma brasa anoitece.
Eu não sabia
...que a vida era assim.
6 comentários:
Dentro de cada um de nós vive uma criança, que pode estar presa ou livre, dependendo das situações...
Minha criança livre está adorando ler esta série!
Abraços de LUiA
Dauri, a série está encantadora!
Parabéns!
Um forte abraço!
Toda vez que leio - Minha mãe nunca vinha - eu choro.
O menino veio escancarando meus sentimentos.
O menino veio escrevendo os sentimentos fortes e de forma poética.
O adulto pode negar que escreve poesia, mas a criança é espontânea, é verdadeira, e trouxe sentimentos, trouxe vida, trouxe poesia e encanto.
Depois que a criança revive, o adulto nunca mais será o mesmo
beijo
Comovente não é a melhor palavra mais foi a primeira que me ocorreu ao ler esse texto e olhar a foto da fazenda, ao lado.
Porque moro numa serra onde existem inúmeras fazendas coloniais com cozinhas e senzalas preservadas.
Vejo o verde e sinto o cheiro da fumaça delicia de sentir e que exala vida na fazenda.
Emoção e a palavra que me vem neste momento.
E eu saio em silêncio, agora.
...
Se a vida é esse doce partir
e a singularidade desse olhar
nos leve sempre nesta estada breve
O menino e sua cozinha gigante!
Mundo despertado após a porta...
Abraço, Dauri.
Continuemos...
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