17 setembro 2008

O desenho, a estação, o olhar...

A voz caiu cansada de dizer te amo.
Uma coisa quase morta,
um hematoma,
um incômodo
impedem-lhe de escrever,
de dizer desencanto, nem isso.
Usa o lápis para desenhar, traços agitados,
feitos às pressas na estação. O trem vai chegar.
Um gato tenta escapar da trama,
do lápis que reforça as linhas da rede. Que idéia!
O olhar pára no desenho, destaca a folha do bloco,
o lápis volta para o bolso, chega o trem. É setembro.
Em meio à confusão de quem vai, de quem vem,
um momento estranho, calmo. Ele não embarca,
fica parado, mala ao lado. A folha com o desenho
vai com o vento e o trem.
A voz vagarosamente se levanta no pulmão,
voltará para dizer outras vezes te amo.
Entre o sentimento poderoso e a decisão abandonada,
ele fica invisível, algo se apaga.
Me vejo.

6 comentários:

Camilla Tebet disse...

Que viagem essa hã..onde a cada estação vc se vê. É das melhores viagens, a que nos vemos, mas também das mais doloridas, não?

"A voz caiu cansada de dizer te amo." Dauri Batista

Isso é lindo. E triste. é lindo.

Joice Worm disse...

Maravilha, Dauri.
Também não me canso de dizer te amo. E Setembro é o meu mês.
E o para mim, o trem que chega é o mesmo trem da partida. Por vezes, me parece que a vida dá voltas e voltas...

aluaeasestrelas disse...

Simplesmente lindo. Quanta delicadeza para dizer da partida... Mas uma partida com a certeza do retorno que vem do sentimento maior do amor...

Adorei. Parabéns pelo texto!

Abraços!!!

Zzr disse...

Olá
Ficarei muito feliz com suas visitas. Ainda mais depois de conhecer esse blog tão bem escrito. O seu também tem muitas coisas belas, até mesmo implícitas. Parabéns e volte, volte mesmo.

Quanto ao texto, percebi uma descrição sensível, maravilhosa. As despedidas me deixam tão estranha quanto. Você consegue escrever os melhores detalhes, o que prova um olhar diferente dos demais.

Grande abraço.

Katia De Carli disse...

Dauri
É lindo
É triste
Te vejo...
Mas não consigo mais me ver... está difícil! Por isso estou só viajando...
beijo e bom fim de semana

Ricardo Jung disse...

a rotina do poeta é a tristeza
do ponto de vista do lápis
por onde tudo se torna beleza
pelas mãos, pela vida que se escapa
pela luz que tudo rouba
pela nudez pura do poeta
da alma límpida e sem roupa
do amor extremo e indiscreto.