Quando encostei meu barco no cais
percebi ao sair do balanço do mar
que minha alma estava parada. Parada.
Assim como bandeira hasteada em país sem vento,
como canhões antigos apontando pro nada
e como capela de jesuíta que virou museu.
Achei estranho e pensei,
morri.
Quando se morre, no entanto
mais ainda a alma se move.
Ela sobe - disseram.
Então o que aconteceu comigo ali?
Morri de outro jeito, pensei.
Que nada, tudo passou quando notei
que o que parecia um buraco no tempo
era a agonia de um peixe se debatendo
e morrendo dentro do barco
junto dos outros já mortos.
Fiquei ali,
estacado, com muita pena do bicho,
como se ele fosse gente, meu parente
irmão ou eu mesmo, sabe-se lá, cruz credo!
Tudo está ligado – disseram –
como numa rede.
Mais do que nossas explicações,
os mistérios são maiores.
Me benzi.
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