30 agosto 2007

Reflexo

Me doeu na alma o reflexo na lâmina do rio
que neste deserto corre como se fosse uma canção de ninar
na voz de uma velha , bem velha mulher .
Terá O Filho passado por aqui quando caminhou na terra
e enxergado O Pai-do-céu pelo céu que se vê ao olhar pro rio?
Bem poderia ter sido desse modo,
o que explicaria minha dor agora,
além da secura na garganta
e do desatino do viver.
Na agonia da sede, antes de beber
me dei tempo de olhar e vi
no reflexo o que não esperava ver.
Um olhar (Do Espírito?) que ficou aqui
nas águas, nas pedras
nas ervas, no limo
no fundo.
Não, de Deus não,
me engano e me iludo.
O que vi foi meu próprio olhar
- e como me dói.
O deserto me fez seco
e áspero como as pedras.
As viagens são fundas e curtas.
Meu olhar é opaco de inveja
desse rio que atravessa o deserto
e se espalha raso-calmo
só para espelhar o céu.

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