27 agosto 2007

Na margem desse agora

Essa água escorre e vai
pelas costas dessa Gaia velha
e se desperdiça em voltas e curvas
num caminho que se assemelha ao meu.
A parecença fica por aí,
pois do milagre que a Gaia velha faz
- que se mostra na montanha corroída e áspera
gemendo em gozo por séculos
nesse lindo filete d’água -
eu não sou partícipe.
De dias pequenos é que sou comparte.
Nem reparam nos meus anseios e já passam
um depois do outro
antes do fim do meu gozo escasso.
Destituído da conivência dos dias que se seguem, falho.
Não canto a música que tocam,
não choro a mazela que anunciam,
não engulo a batata-frita que comprei,
olho a montanha e não fico zen.
Fico assim,
nem dentro, nem fora,
na margem desse agora
que já passou.

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