12 novembro 2012

Uma fruta tem paisagens, descortinadas janelas abertas das duas bandas para um intempestivo lugar, uma janela para aquele cenário que reverbera como eco da palavra alegria, alegria, legria, gria, ia, ia, ia, ia a mente, o coração, ou o que se passa nos fluxos entre os dois, ia na direção do riacho de areia branca e água transparente, ia na direção do pomar por ali, do bambuzal majestoso a estalar seus humores de louvor aos ventos bons, ia, eu ia, era por ali que eu ia, íamos em busca das mais variadas mangas, alegria, sim, mas agora era pelo dia que eu seguia, mais um dia, um peso aqui, uma preocupação ali, a agenda acolá, a rotina a me desafiar em deboches, quando me perdi... foi na primeira mordida que dei... me perdi... naquela manga que ganhei, ah, o sabor tem paisagens, o sabor tem cenários, o pomar, o riacho, as imensas mangueiras, foi bem lá que eu caí. Ganhei mangas, mangas da infância, mangas de caldo a escorrer pelos braços até pingar pelos cotovelos na camisa, mangas, não sei como você as conhece, essa de que falo, eu a conheço como "manga seleta", de sabor e perfume inconfundíveis, ah, ganhei mangas.

3 comentários:

Maria Helena disse...


Você vence todos os desafios das suas lembranças.As coisas mais simples, do cotidiano, você embeleza e as torna em algo especial inclusive no som que parece que quer nos embalar como uma cantiga. Li em voz alta e quem ouviu se encantou.

mundo azul disse...

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...huuuuuuummm... Adoro manga!
Como as nossas lembranças podem estar atreladas às coisas mais simples, não é?

Senti o sabor da fruta na sua excelente narrativa!

Beijos de luz e o meu carinho...

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Paula Barros disse...

É de uma beleza imensa este mergulho nas lembranças trazidas por uma fruta. A sua forma de escrever, de dizer o que muitos já sentiram, é linda.