Entre livros antigos
naquele prédio decadente
do centro que não é mais,
com as narinas cheias de mofo
ele escrevia e rezava.
Apesar do século vinte e um
parecia um monge medieval.
Mas a era da violência
veio sem pena dizer-lhe
que acabara o tempo das rezas.
Era a hora de passar o dinheiro,
rapidinho,
e dizer amém.
O assaltante tremia,
o revolver não perdia,
no entanto,
a direção.
Foi uma bala só, no coração.
O jornal diz que o corpo ensangüentou
um caderno com muitos escritos
que ele segurou sobre o peito.
Ninguém ficou sabendo
quem matou o pobre homem.
Mas há em mim um desejo que não entendo.
De que me interessaria saber?
Descobriria eu algum parentesco com o morto?
Pois é este o desejo: saber
o que esteve escrito ali
por debaixo do sangue.
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