23 julho 2007

Apavorado

Ele está apavorado
e de pavor pensa.
E de pensar anda cansado,
um cansaço que dói
num lugar da cabeça.
Está apavorado e já pensa
que é assim
de natureza, apavorado.

Não anda com sossego.
Cada rua é um medo.
Cada olhar uma intenção ruim
de assalto, de arma e punhal,
entre tantos outros medos
de avião,
de avc
de câncer, da morte e
de sofrer.

Nuns momentos só
do pavor se sente livre
quando procura palavras floreadas
para escrever poemas
que nunca saem do rascunho.
Palavras que como roupa de palhaço,
larga e estampada,
disfarça o pobre coitado que está nela
tremendo no trapézio
diante do salto - obrigação sem recuo -
apavorado,
todo dia,
até a morte.
Ah, vida!

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