30 junho 2009

(encerrando estes poemetos de estrada)

O escuro
do universo
pinta estrelas

na noite da estrada.

Há nas cidades
por onde se passa,
em cada lâmpada que pisca,
uma esperança

de uma voz que me chame

e me retire da garganta

o nó. Quem sabe

o que se ilumina no céu
não se ilumine também,
abundância de estrelas felizes,

na estrada que me corta.

***

A madrugada
me ultrapassou,
um fantasma,

e me acordou.

Acolhi com mãos de susto
o coração acelerado

e pensei no sol,

órquídea amarela,
que demora. A viagem

pode ser a poesia

ou a água de pedra
que abrirá a manhã
em rumores de pequenos
filetes formando riachos.

***


Olhar, olhar,
olhar, em silêncio
andar, não me canso de olhar.

Olhar é bom

mais do que falar,
...e cantar.
Por isso ando por esta estrada,

talvez,

para olhar,



olhar. Meu olhar,


a unica coisa em mim que ficará
a cada dia mais intenso até...

até se apagar... como um sol

andar, amanhece
nessa estrada. O que todos fazemos


são esgarçados sonhos de um lugar no mundo.

29 junho 2009

O que vale
e o que não. Os dias

passados coabitam com os futuros
na estrada. De surdina
aquela lembrança e o anseio
de amanhã
se combinam. O dia

paralisa-se numa dor, um vazio de dor,
um buraco onde havia uma. A alma

como uma casa que passa,
fica longe.

O vento corta o pensamento,

um que fica,
outro
que vai.

28 junho 2009

Paro na estrada,
escrevo luz no bloco de notas
com os fios
dos teus olhos
e amor
com as linhas da tua voz.

Evoco

o trinado de um pássaro sozinho na cerca ao lado.
Lindo pássaro que não me atende.
Ele não canta, me olha, penso, me vê escrever, quero que me veja,
mas ele não me vê, só enxerga o céu e as campinas além de mim.

Na ocasião apoesio-me dos horizontes

... e sigo.

O que canta a estrada, canta bem alto
give-me strength.

27 junho 2009

Passos dou,
umas vezes,


sem querer ir.


Vou...

e nessas vezes vou
para não ouvir
a música
que canta uma saudade,
aquela,
exatamente aquela
que não sei explicar.


Na estrada,
ainda bem,


encontrarei com o sol


mais cedo ou mais tarde,
e serei certo de um dia...
Agora,
nessa tarde com chuva
só o barulho da estrada
ouço. Sei,

sim,

sei,



o acaso da estrada



é uma das riquezas
de quem vai.
Ouço crossroads,
olho o cenário
e insisto,

sim,

insisto nos passos.

A cada dia
a estrada fica mais...
mais...
sei lá. Mais bonita,


apesar.


Mas tanto quanto ela
a cada reta, a cada curva,
acho que se embeleza algo em mim
que ainda não sei encontrar.

26 junho 2009

Ouço san francisco bay blues


e admito:



é,



sim,
é verdade,


tenho uma estrada
dentro de mim.

24 junho 2009

(depois do romance japonês)

Os dias seguem rotas curvas.
Caravanas pelas janelas
atravessam o olhar de quem volta

por uma rua tortuosa.
Nela um velho monastério
onde se confecciona instantes

com fios de seda, ao som de sinos.
A boca seca ainda umidece
a pronúncia do seu nome

mesmo quando não se tem mais certeza.
O risco neste mapa é vermelho,
sol escorrido, testemunha

de passos de amor. Os dias
desenham linhas no centro do peito,
desejos de refazer o jardim.

22 junho 2009

(lendo um romance japonês)

O que se escreve fica no lugar de...
uma pedra no lugar do sangue,
viagem no lugar do amor,

templo no lugar do êxtase.
Um lugar no lugar do outro.
Um aceno no lugar do abraço,

deserto no lugar do vale,
carcaça de camelo no lugar do oasis.
Um sino no lugar do beijo,

quadro no lugar do sol,
retrato no lugar do sorriso.
O que se escreve mancha

outro mundo nas cavas,
nos vagos recintos, onde
o que já é pouco se vai, e se esvai.

20 junho 2009

(lendo um romance japonês)

Um leve sono, um cochilo com a cabeça
encostada no vidro, na janela, na paisagem.
Passa, o que passa? Acorda-se por tímida luz,

mesmo que caia a noite. A vida. O vento frio tocando
o vagão vazio, um coração cheio de jazz, uma cadeira
a girar. O encontro será lindo. Um olhar

sobre a paisagem é moeda de ouro que se lança ao ar
sem usura. Só a poesia sabe, mas guarda segredo
das tristezas. O que fala é o livro, beleza e tristeza. Sinos.

Não mais amar assim. Amar sem resistir, ou, desistir.
Um desejo puro que não faça sofrer, um desejo
sujo de amor que se quer reviver. Só ver, basta.

Não. Revira-se em movimento um parágrafo,
o coração. O coração num parágrafo, preso.
A leitura não chegará ao fim antes da última estação.