01 dezembro 2014

O terço dos oceanos (continhos malucos)
 
Qualquer coisa que se diz está bom, quando os territórios do silêncio se expandem. Talvez depois de amanhã o tempo seja bom para navegar. Enquanto o que se haverá de dizer se diz só em pensamento, segue o sujeito do conto.
 
Ele, o sujeito do conto, diz coisas de saudades, pessoas que atravessaram o mar sem naufragar e que lhe enviam e-mails, Mas ele só recebe esses e-mails de mês em mês e olhe lá. Não que ele não queira ou não possa ler essas noticias. Mas os que foram não podem fazer nada além de fazer palavras para ajudá-lo e nem sempre ele as quer. As barreiras contra os imigrantes ficaram ainda mais altas e as impossibilidades aumentaram. Ele diz que embarcará de um modo ou de outro no próximo barco. Prometeram e a ele não cabe outra saída senão confiar naquelas promessas pagas com o pouco dinheiro que tinha, e outras coisas. Melhor não falar.
 
O sujeito do conto morre no naufrágio. E aquele que dizia coisas em pensamentos escolhe dizer uma palavra solta: mediterrâneo. Então ele percebe um sabor de oração na palavra e a repete, repete. Corre o toma um rosário esquecido numa gaveta e começa e dizer para cada conta a palavra mediterrâneo.
 
E depois das dez primeiras muda para atlântico,  atlântico, e sente-se um pouco planeta, maior, sabe que é ilusão, fruto suculento da angústia de ser alguém que precisa pensar no amanhã, e depois mais adiante índico, índico, índico, e chega às dezenas do pacífico, o terço segue rápido, o sono parece como ondas que vem e vão, sempre dormiu bem, mas ainda é cedo, talvez sair e rodar, andar a pé pelo cais, pacífico, pacífico, pacífico, acabaram-se os oceanos, pensa em colocar mais um mar, já que já tinha rezado o mediterrâneo.
 
Cáspio, negro, morto, morto, no mediterrâneo, tantos, o Papa foi até lá rezar, ele deixa a ideia pra lá, mesmo que faltassem dez contas pra adoçar a língua com a sonoridade macia da repetição. O silêncio retorna ainda mais frio e ele fica ali, parado, olhando.

02 outubro 2014



Uma pequena felicidade é maior, bem maior, do que um dia inteiro.

01 outubro 2014

Dizer? O quê? O dito. Adicto, entregue ao dito, já me vou.

28 agosto 2014

Tem alguma coisa nesse ar, tem alguma coisa na luz do dia, tem alguma coisa boa vindo. É setembro que vem chegando? Pode ser. Só se vai saber exatamente quando acontecer, como uma moqueca em Santa Cruz em dia de semana, uma moqueca, muito pirão, um tempo largado, largo e espichado só para olhar o Piraqueaçú, o rio e o mar, os barcos. Ou como uma saudade, daquela das boas, que não faz sofrer, boa para se deixar atravessar por ela sem receios, como o barco que atravessa para o lado de lá, dos coqueirais. Tem alguma coisa nesse ar, também assim, como vou dizer, como quando se toma floral e se sente um bem na vida que se vive. Vou separar uns dias de setembro. Talvez também tomar uns florais da Califórnia.

27 agosto 2014

Nada mais do que dizer, nada e ainda tudo por dizer. Umas coisas, uns instantes, uns cenários, uns encontros talvez gerem novas palavras. Já não escrevo poemas, o que escreverei? já escrevi vírgulas, já sim, talvez seja melhor assim, escrever confusões. Tenho lido livros eletrônicos, me apaixonei, não preciso acertar o angulo em que posiciono o livro para não fazer sombra na página. O livro tem luz própria. Já li vários livros assim. Terminei outro dia, imagina, o amor nos tempos do cólera. Agora estou nas últimas páginas do Jesus Cristo bebia cerveja, de um autor português, texto muito bom, o nome dele é Afonso Cruz. Mas hoje foi um dia de estar ao lado de alguns que diziam adeus, mas também foi dia de dirigir e ficar no trânsito parado sem ansiedade nenhuma, preso e solto ao mesmo tempo. Um amigo adotou um gato. Quando ele me mostrou a foto achei feio demais. Agora o gato está lindo. Eu acho que vou adotar o dia de amanhã, vou cuidar dele,