31 julho 2009

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12:30 entretinha-se com o telefone celular sentado à mesa bem defronte à entrada. Almoçou sozinho, comeu pouco.

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04:05 acordou, antes da hora. Meu Deus, o peso do dia já lhe batia no peito.



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29 julho 2009

... momentos
soltos,
felizes. São ventos
que tocam flores
arremessadas por amantes.
Lindos, caminhos,
perfume que no ar se dissipou.
Outros,
tristes,
escorregam lentos,
um fio de seiva,
espesso óleo de madeira,
resina de aroma e dor.

28 julho 2009

... procura
um poema,
encontra muitos,
não se agrada de nenhum.
As montanhas lhe vêm à mente,
mente pra si mesmo
pra não sentir
o poder da queda,
a força da pancada
da tarde em seu fim,
perto da noite
dentro do próprio coração.
Lá onde o mundo gira
é bem longe,
e o livro
está em Paris.
Do mais o que o quintal tem,
um pé de jaca, algumas
laranjeiras, uma jabuticabeira
e cacau. É lindo o cacau,
mas o chocolate que se quer
é o suíço. Escurece
e a oficina mecânica fica linda
no escuro. Das unhas
a graxa não sai.
Acender uma
fogueira
dentro dos olhos
é o melhor
que se tem a fazer.

24 julho 2009

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A gota,
a gota está
atravessada.
O mar, o mar está,
o mar está,
atravessado.
O grão,
o chão também,
o grão e o chão, o grão está
atravessado.
O sol, o sol está
e o universo, o universo,
o universo está,
está
atravessado.
A mão, a mão está, a mão e o pé,
a mão e o pé
estão atravessados.
O coração,
e o que nele há,
tudo está
atravessado. Nada sobra,
ninguem sabe,
só o coração,
só ele sabe
que está
atravessado.


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22 julho 2009

Ao se falar em Brasil
nao se imagina o Espírito Santo.
Quando se diz Estados Unidos
não se pensa em Kentuchy. Mas o lugar,
o lugar mais, é onde há a casa.

Uma palavra aberta
esparrama navios no porto.
Certas dores se tem, só por viver,
mesmo em dias derramados de azuis.

Tremor de água fria,
tremor de querer ser feliz,
desperta num segundo a vida.
O que era importante deixa de ser.
Um poema é só uma virgula.

O que se diz,
se diz,
palavra escrita a giz,
um leve contentamento.

21 julho 2009

Quando se encontra
a palavra certa
sobe-se uma montanha. Mas,
de lá se avista
a feiúra da frase.


Já se é tanta coisa, e a vida
é escrita em tantos papéis.
Poeta não,
basta o revés.


A vida despagina
outros livros não escritos, sopra
poeiras sobre a flor,
e é isso um poema.
A flor espera a chuva.


O que se diz,
se diz
sem efeito duradouro,
um leve contentamento.

20 julho 2009

Entardecente é a música,
a mãe que diz,
vá meu filho, vá. Se
não der certo,
você volta.


O que se tira, e se retira
do fundo do poço é agua.
Pode também ser mágoa,
ou outra primavera.


A estrada na foto
é ainda mais nostálgica.
Congela a hora
na dor mais aguda.
Só é possivel ir.


O que se diz,
se diz
pelo engano de dizer algo,
um leve contentamento.

19 julho 2009

Um choro ou
um cachorro
são dobras
do mesmo papel
onde está escrito amor.



Repartir
a saudade em pedaços
é parte da receita.
O resto eu esqueci.



Onde os olhos se perdem
é o horizonte.
Olhares perdidos no entanto
não amassam o pão.
Talvez encontrem ovnis.



O que se diz,
se diz
pelo sabor da pronúncia,
um leve contentamento.

16 julho 2009

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Uma voz longe canta uma despedida num jardim:
me aquieto num canto.



A sala, a orquídea sozinha de tão linda faz a casa:
fria, fria.



Um raio atravessado de lua pela janela me esvoaça de saudades:
não consigo dormir.



Deparo-me cansado com o sol nas mãos, sem você:
amanhece.




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15 julho 2009

Desajeitadamente procuro chamar sua atenção:
me deleto.



Nas telas por trás dos meus olhos a cena clichê:
o mesmo amor.



Redobro palavras em e-poemas nas paredes:
você não me lê.



Quando você me enxerga com um canto de olho pergunto:
seu olhar me cria ou me revela a mim mesmo.

14 julho 2009

Debruço os olhos sobre lembranças:
uma única cor, blue.



Imagino seu sorriso diante daqueles desenhos na tv:
fico fora do ar.



Me caem pensamentos sobre o seu corpo no chuveiro:
me torno aguado.



Já vivo alegre, mas o olho no seu retrato me revive triste:
ne me quitte pas.

13 julho 2009

Olho para você e penso:
meu Deus!



Reparo a enorme distância entre nós:
viajo.



Encontro ruas e ruas em seus poucos olhares:
me perco.



Seus lábios serão asas:
me sinto um zé bird.

12 julho 2009

Busco poesia, quero crer,
encho,
pretendo encher
meus dias de... podem ser lindos,

campos.

Não tem nada que me fascina mais
do que estradas. Não chegar,
ir

e pensar, sentir,
olhar os campos, o descampado, a plantação,
viver a ilusão de dar todos os passos
e fazer todos os caminhos. Nada
melhor do que esta
evasão de si mesmo levando-se em asas,

as mesmas que cansadas
não me deixarão cair senão
em mim mesmo.

O prazer de viver é,
publicar livros de poemas não. Me sugerem,
nem pensar,

só me darão trabalho, e o incômodo
de vê-los empilhados, o constrangimento
de dá-los aos amigos. Que é isso,

fazer isso com a poesia, de jeito nenhum,
poeta não sou mesmo.
O tamanho das asas
é suficiente para voos sobre lindas montanhas
e para o avistamento das estradas,
inclusive daquelas
que não vou fazer.

Sorrisos importam.
Escrever será somente a saliva invisivel
que escorre no canto da boca
enquanto se fala
ou gotículas de hálito que voam.
A mão traça poemas
quando dança no ar com uma xícara de café.

11 julho 2009

Localizar palavras viajantes,
na velha casa de janelas altas
é estranha tarefa agora, jogo serio.

Sombras de um cão atravessam o vidro
e se projetam sobre meu coração.
Movo-me de lugar. A sombra pega
no meu pé.

Uma incomum e benéfica presença no vitral
entrelaça corpos e sonos nos quartos,
vários sonos, os meus inclusive,
aqueles que ainda hoje vou dormir.

A volta da sala, a curva da escada
coloca-me ao telefone
por onde ouço uivos, longe,
talvez onde o que se quebra
seja exatamente o que
se hesita em quebrar: o verso.

O que foi deixado para trás,
na casa forma paredes e rachaduras,
belos quadros, retratos
que escondem o endereço
das verdadeiras palavras,
as que viajaram. Faz tempo.

No quarto de costura, atrás, uma luz de prata
desfia um suprimento de sedas,
pensamentos lentos, lã, aconchego
com muitas letras, de alguem
que me deseja encontrar. Acho

que uma rosa no jardim cheio de matos
anda derramando seu perfume, me embriago,
na ponta de um lápis torto
por onde seguem poemas cambaleantes.
Não passei pela cozinha ainda, mas, por agora,
boa noite. (O relógio canta onze horas).

10 julho 2009

Há um assim,
e assim,
e depois outro
desejo de distinguir o mundo,
tomar-lhe a casca
e descobrir seus gomos...

não os sabores. Estes se sabe
a cada hora,
e os odores a cada instante.

Há um assim,
e assim, e depois
outro tempo.
O de agora aponta pra setembro,
no Espírito santo,
os dias de azul mais bonito,
perto do mar. Logo ali,
pula um e chega. O amor,

a vida que vivo, frágil
flor do desejo, saboroso
fruto do tempo,
desde ontem até amanhã,
tanto faz para o universo.

Ele segue
em suas imensidões. Vejo,
antevejo, beijo o ar e sinto, beija-flor
que me anuncia: vem setembro.

Teimo então,
digo não ao que sou,
digo sim ao que quero ser,
mais, um pouco mais do que
a junção de certas poeiras do universo:

ver o verso da luz mais bonita
no Espírito Santo,
a de setembro. Eu retrato

a estepe, disse
Anton Tchéchov. Eu...

sei lá, eu...

eu criei essa fantasia
de esperar

setembro.

08 julho 2009

Reconcebo-me,
assim como vês.
Penso, imprenso-me, imprimo-me.
Me lês?

Apraz-me essas asas que nao cessam,
movimentos em danças de ar, poemas.
Assim como vês,

passa o mundo,
passa por mim como agulha
e me costura
por dentro, na lapela, onde fico
sobre o coração (de Deus?)

Refunde-se no gozo da escrita
a nave com o planeta,
surge um gameta
e me faço eu,
eu, insignificante fogo de sangue
no meio das estrelas. Tu
me gostas assim, não é mesmo?

Quando me fecundo asas num poema vagabundo, o útero
é o instante. A cada um,

no entanto, me faleço antes
com todas as tristezas e lutos. Então me nasço
e tudo vira. Pergunto-me
se estou te amando novamente.

Da barreira sobre o rio me lanço
com as asas fechadas,
por brincadeira,

e tu vais comigo.
Um pulo, o mergulho,
a água se esparramando.
Haverá de ser assim
viver...

Haverá de ser...

É festa? Claro,

é. Só não sei se o universo sabe
que a minha vida é a festa dele.
Bem, no mínimo tem que ser a minha também.

06 julho 2009

Se há poeta,
por aqui é que não há. Andam
essas palavras,
tem passos em seus pedaços,
Roland Barthes não viu.

Me esbarro na corrida dos meninos
soltando suas arraias
nos terrenos baldios.

Se há não vejo,
o que escorre desses dedos,
corre desengonçado, corre,
voa, nada, peixe que não serve para aquário,
nada. O papel
foi picado e me alegro em jogá-lo pro ar. Talvez
um gozo, um olho, um modo de olhar,

só o olhar pode parar
o mundo, o universo, o tempo.

Se há,
é um reverso
o que se levanta na estrada
a cada passo. O que se levanta
e não se vê, atrás dos passos, a poeira,
o que gruda nas sandálias,
mesmo depois de sacudidas. O que escorre,
destilado da vida em cada bago
que se pisa, caminho que pode fazer o vinho
de melhor sabor. Pode. Não há
garantias.

Se
o labirinto da mente
pocou o sol em dois,
agora sou hóspede
num mundo que orbita estrelas binárias.

Ah, o quê?, tu te confundes?,
é que as palavras
as vezes,
pastilhas fortes, são de hortelã,
na boca que espera
um beijo. São outras coisas ainda, as palavras,
muitas outras,
que não posso dizer, por incompetência,
não sei pescar. Pesco.
As vezes pego um lambarí, uma piaba.

Há uma linha prateada na piaba. Do
início ao fim. Um
pássaro de vinho sobrevoando um coração.
Um beijo. Tchau.

03 julho 2009

Ah, o que me consterna...
não sei, não sei se digo,
se sei dizer...
apesar de estranho,
digo: é
no chão que se ondula em campinas,
terra arada para plantar milho,
ou capim,
ou feijão,
naquela pedra perdida,
ali,
jogada sem destino,
parada, parada,
com marcas de pancadas
do arado,
...é nela que me consterno.
Pedra sem nada,
sem história nenhuma,
sem valor, sem mão que a tome
para ser pedra onde se lava roupa,
pedra de esfregar sujeira
no riacho perto,
e a torne lisa. Pedra
que ninguem toma
pra calçar caminho
ou para decorar jardim.
Longe da casa que está
não vale a pena ser levada.
Pedra feia, pedra pedra,
bonita assim, fica,
a pedra abandonada. Pedra
parte coberta,
parte aberta para o meu olhar
que desce sobre a paisagem
e nela se esbarra... se empedra
de uma ternura descabida. A vida,
o céu se dobra no baque do olhar
na pedra, em luzes
da tarde. Luz amarela
que anuncia um vento fino,
soprador de arrepios,
quase medo, o destino. Pedra.

02 julho 2009

Tornar luzidio o poema ao amanhecer,
um poema espelho novo pra se ver
por dentro.
Deixar que o levante defina no chão
a sombra da casa em que se vive,
os rastros dos passos passados,
passos mal dados até, muitos, e...
sorrir, rir da beleza do caminho,
ouro de viver.
Recolher as cinzas dos porões do navio,
velho vapor por onde se vai
ao largo, aos horizontes azuis,
novas terras de lutas e trabalhos.
Soprar de novo as brasas
do sol,
estrela feita de gritos,
acreditar que rebeldia não é pecado
e pensar o dia todo bom,
herança mais valiosa.
Esperar o café com a amiga que volta
em pleno meio da tarde.