28 outubro 2012

, o que é a bondade?, você perguntou, mas não mais do que isso você perguntou, e ficou olhando para aquele barco de qualquer jeito deixado na areia,  as cores do barco mesmo que marcadas de esbarros e pancadas e muitos dias, ainda davam a ele uma indiscutível beleza, mas a beleza também estava nas cordas ali jogadas, jogadas como dias vividos, como boas horas, bonitas, passadas, o que é a bondade?, a inclinação do barco também era bela, como se fosse derramar poesia pela areia, ah, lembrando que bondade e bonito tem a mesma raiz, você diz, talvez bondade seja isso, um barco deixado na praia

27 outubro 2012

, era cedo ainda, mas ele sentia como se fosse mais tarde do que era, mesmo e apesar dos seus vinte e poucos anos, um Bob Dylan sujo e desorientado andando por Nova York, um Bob do terceiro mundo, sonhava em aprender a tocar gaita, se bem que podia ser um bom médico, pensava umas coisas legais sempre que dedilhava seu violão sentado sobre a cama, brilhava um sol de primavera com cara de verão, tinha tantas coisas pra fazer, ia andando como se estivesse de férias numa cidade distante, cobria tudo com o olhar de novidades, mas não conseguia, era o que queria, mas não, o que via teimava em repetir as mesmas paisagens, os mesmo nomes, os dos restaurantes, os dos bares, das lojas de roupa, então ele voltava para a construção, tentava voltar, construia seu andar de turista em cidade estranha, via-se feliz de andar livre sem saber que rua viria depois da esquina, mesmo sabendo que era a rua para onde ia, e então dava-se de cara de novo com o muro feio clamando por vida nova