Inesperado sol
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Foram apressados na direção dos escritórios gerais onde estava a caminhonete, Dias se concentrava no pedido da avó, o andar quase correndo do gerente dava-lhe um sentimento de que ia conseguindo o que almejava, antes que supunha, aquela amizade, uma intimidade de parceiros, seguia-o, queria manter-se nos passos ao seu lado, mas não conseguia, não por não ter pernas para isso, mas porque algo, um pensamento se infriltava por entre seus respiros para dizer em voz baixa que ele deveria adotar um rítmo de alguns passos de atraso em relação aos dele, era melhor, sentia uma excitação, uma alegria e um desepero, tinha o que um momento pode dar mas também a sensação de que logo fosse tudo perder, como se a solidão rompida por uma longa rachadura instantaneamente se refizesse, peça única e inteiriça, ainda mais pesada, olhava o andar daquele homem, seu corpo, achava-o ainda mais bonito em movimento, almejava semelhanças, haveria umas semelhanças, haveria de descobrir e ficariam ainda mais próximos um do outro, mas voltava o pedido da avó a bater-lhe na mente, condenava-se por não se libertar daquela idéia estúpida e romântica, mais romântica do que estúpita, acertou seus pensamentos, devia esconder-se ainda mais, deixava rastros no entanto, sempre, fazer o quê? Enquanto deu a volta para entrar na boléia pelo outro lado o gerente já tinha dado a partida no carro que roncava forte, era como se fossem fugir, a cena comum, mas sempre bonita, capaz de despertar nos olhos de quem assiste um sentimento terno, o carro indo pela estrada afora, levantando poeira, e eles embriagados de alegria, rindo, rindo, rindo, juntos deixando tudo para trás, cheios dos desejos de vida, de aventura, a cena se desfez, ao ronco em ondas do motor se somou a pergunta do gerente sobre onde a tal mulher morava e Dias respondeu que tinham que ir logo até a Igreja de São Pedro buscar o padre como lhes fora pedido. Que padre que nada, respondeu Augusto, vamos até a casa dessa senhora, é melhor levá-la ao médico.