10 junho 2009
Não,
esta cara não é minha.
Os traços que perfilo
são caminhos.
Este rosto não me cabe.
O que faço...
bem o que faço... se faço,
é um pequeno esforço,
um jogo
preguiçoso.
Quebro as pautas,
faço versos dos sintomas,
compenso-me das linhas da mão
que me derrubaram do destino.
É uma espécie de síndrome normal,
algo que me talha o rosto,
e me define assim.
Tenho cá minha beleza,
olha,
este rosto que me trazes
não me cabe, por favor.
09 junho 2009
Lí,
salvei tuas palavras
enquanto ouvia uma música
triste. Saí.
Juntei
o que disseste e segui
para a rodoviária
sentindo a alça da mochila
machucando um ponto
nas costas, no ombro
onde carreguei
no passado
coisas tão lindas
que perdi. Acho que perdi.
Seguí,
encontrei um sentido
nas tuas palavras. Inventei
um poema em três rosas amarelas.
Uma eu levo, é tua, outra eu fixei
na lapela do meu casado cinza
e a outra... a outra eu joguei bem alto,
o mais alto
que eu consegui.
Tu me vês? Corro para te abraçar.
08 junho 2009
As vezes
me pergunto
lá no fundo do riacho,
triste
diacho,
o que ando escrevendo.
Passo mal senão...
Fraquezas,
feiúras,
tristezas fechadas.
Tu sabes meu coração
tem a ponta virada
para cima. Minhas tristezas
podem se abrir como flor
quando escrevo. Podem.
Não é certo. Mas
nem é bem por isto,
pois que meu jardim é um cisco
e eu também cá tenho minhas alegrias.
Escrevo
para reparar a estrada do que faço
...mais bonita.
Da matéria,
o que resiste,
o que protesta,
o que vence o universo todo
é o olhar.
O olhar
de um cachorro,
de uma criança,
de uma iguana,
de um pastor de ovelhas,
de um homem pronto para se casar,
um olhar.
O olhar,
é um alcance de tempo,
o tempo denso de ser mortal
que desafia e vence as infinitudes.
07 junho 2009
Cheguei do cinema,
a noite chegou
comigo, na mesma hora.
O escuro me ignora
e me cobre
mesmo que eu peça sol
por favor, sol. Não.
A notícia me deram
a notícia dos corpos
boiando na vastidão.
A noite me apertou
a garganta, a mão gelou.
A noite (um avião caiu no mar),
a noite é um mar.
Eu sou um rio
...
06 junho 2009
A menina estava cansada.
seu olhar caia, caia...
e se ia
com passos bem curtos
até ali.
A menina não queria mais
as ondas das campinas, nem
o sol se pondo por destrás do morro.
Não queria o fogão aceso
como luz para a cozinha
nem queria mais
a noite que sempre vinha
no pio de soturnos passarinhos.
A menina tinha 18 anos
colhia morangos durante o dia.
Me deparei com ela, ela
se deparou comigo.
Nenhum
dos dois sabia
se era o que via
ou se via o que era.
Casamo-nos num fim de dia.
05 junho 2009
04 junho 2009
Posso pensar outro modo de dizer. Veja,
que tal se você falar assim com o seu patrão:
Quero pensar por mim, não o consenso.
Um desprezo me corroi, é o que venço
quando penso em gostar de poesia.
Perco a hora, a ideologia do que tenho que fazer,
entro-me pelo tempo num mundo onde posso
fazer outra vez, melhor, o que não. O atraso
será avanço. Não me verão.
Estarei enlameado de construção.
Vá... respire com ternura ao falar, depois volte.
Quero você comigo um tempinho a mais.
03 junho 2009
Se você quiser digo eu,
digo para o seu patrão
e para os que navegam pelo rio
que o olhar comum
teima em dominar nossos dias.
Direi que decidimos levantar resistência
e que para a luta o primeiro treinamento
consiste em ler em voz alta e de cor
um para o outro
chaves perdidas de poetas desconhecidos.
Direi, mas... você promete
que vai ficar mais um tempinho comigo?
IV
Pois bem, você dirá para o seu patrão
que vai se atrasar porque agora há
quem quer ler e entender versos,
versos doidos em que os metros nada mais são
do que treinos para se enxergar
outro reino, novos modos de respirar
e viver as mesmas e comuns cores da vida.
Diga a ele que depois
o trabalho que você fará
será arte, flores na planície. Paz
Vá, diga isso com amor
e volte logo... fica aqui comigo
III
Não? Esta bem, está bem,
vamos pensar outra coisa.
Você diz que está abençoando
o relógio com um olhar de amor.
Diga que vai se atrasar
mas que compensará o atraso
com poesias de vários tamanhos de asas
que serão semeadas em cada mesa.
As sementes são instantes felizes.
Vá... diga isso... depois vem
e fique aqui comigo.
Logo mais outro relógio
marcará nossa revoada.
01 junho 2009
Quando invento uma nova série, invento
por inquietude, mas é em ti que penso.
Não me imagino senão te oferecendo sempre
uma leve diferença nos meus repetidos poemas.
Eis uma nova série. Se quiser me acompanhar,
por favor...
I
Que tal você ligar para o seu patrão
e dizer que vai se atrasar?
Você vai dizer que começou a ter idéias
pedaço por pedaço
ao ler um poema desconhecido
e ao ler viu
uma borboleta entrando e saindo
dos versos...
vá... diga isso... acredite
e fique aqui comigo.
Depois te dou outra idéia
Vá... diga.
II
Tenho outra idéia. Que tal?
Você vai dizer a verdade.
Vai dizer que está pensando
uma coisa muito importante
seguindo um reverso de luz
numa palavra de jornal.
Você viu
que tudo pode acabar num avião
ou nascer de novo numa decisão.
Vá... diga isso... viva
e fique aqui comigo.
Ou, se quiser, diz a própria poesia
Vá... diga.