Desconexas horas
(Eis minha nova série : Desconexas horas. Minha intenção era publicar 12 horas por cada postagem, mas acho que ficaria cansativo para a leitura. Optei por três horas de cada vez).
I.
A água se lavou de estrelas
e disse,
marejei nos olhos da dor
e escoei-me como lucidez,
talvez, talvez
lucidez de amor.
II.
O sono pegou no fogo
e o fogo teve um sonho,
sonhava que era flor
de maracujá
para acalmar seu próprio calor.
III.
O laço foi dado em silêncio,
mas havia qualquer coisa no nó
que gritava um grito horrível
de passos muitos que se vão
por onde não se quer ir.
(Peço desculpas aos amigos que já passaram por aqui,
mas tenho que fazer uma hora extra. Beijo).
Hora extra.
Uma insanidade latente, borbulhante
atravessou as fibras cardíacas,
vazou pela língua em benção sem liturgia
só pra dizer: agora, sim, agora,
exatamente nesta hora,
alguém pode ser feliz.
09 dezembro 2008
08 dezembro 2008
Entrelace inexorável
(encerrando a série ASPECTUS)
Passam-se noites, dias,
as vigílias se confundem
entre candeios apagados
e cortinas soltas às janelas.
A seiva, um resto apenas, e levemente, corre
no caule ate à rosa pendida, das últimas,
descalça, a tocar o chão, soltando as pétalas
desenrubecidas e frouxas
por entre ervas e carrapichos.
O jardim entregue, testemunha que se dispensa,
surdo ao canto de um ou outro pássaro, está ali.
O que nas estrelas se escreveu, se dá. Assim. Sim.
Há no ar, entre o lavrado e o selvagem
cheiros de últimos desejos,
anseios derradeiros de ver os muros rompidos
para se render aos prados não cultivados ao redor.
Nem isso... não será assim, será diverso.
Pois que é o tempo dos destinos, outros,
tempos de sonolências dos poetas,
tempos de desaparecidos amantes.
Um rosto incerto, indefinido, se aproxima,
roupas estranhas e automóveis nunca vistos.
Fala-se em demolição, dores de um círculo santo
que se fecha, parto de adventícios mundos.
Cerejas, uvas, tâmaras, licores,
pães sobre mesas, espectros de amores intensos,
saudades e dores. Desvanecem-se.
Outras coisas vão surgindo. O que se dá?
Será o entrelace inexorável do passado,
amores e um jardim, com o futuro?
Há ainda um resquício de música,
uma dor fina, um rumor de folhas,
páginas de um livro soltas ao acaso.
Vozes, outras vozes, ansiosas, muitas,
uma comandando, determinada:
Reserve-se a estátua, vamos levá-la.
O mais, derrubem, carreguem os entulhos,
limpem o terreno
e plantem milho em tudo.
(encerrando a série ASPECTUS)
Passam-se noites, dias,
as vigílias se confundem
entre candeios apagados
e cortinas soltas às janelas.
A seiva, um resto apenas, e levemente, corre
no caule ate à rosa pendida, das últimas,
descalça, a tocar o chão, soltando as pétalas
desenrubecidas e frouxas
por entre ervas e carrapichos.
O jardim entregue, testemunha que se dispensa,
surdo ao canto de um ou outro pássaro, está ali.
O que nas estrelas se escreveu, se dá. Assim. Sim.
Há no ar, entre o lavrado e o selvagem
cheiros de últimos desejos,
anseios derradeiros de ver os muros rompidos
para se render aos prados não cultivados ao redor.
Nem isso... não será assim, será diverso.
Pois que é o tempo dos destinos, outros,
tempos de sonolências dos poetas,
tempos de desaparecidos amantes.
Um rosto incerto, indefinido, se aproxima,
roupas estranhas e automóveis nunca vistos.
Fala-se em demolição, dores de um círculo santo
que se fecha, parto de adventícios mundos.
Cerejas, uvas, tâmaras, licores,
pães sobre mesas, espectros de amores intensos,
saudades e dores. Desvanecem-se.
Outras coisas vão surgindo. O que se dá?
Será o entrelace inexorável do passado,
amores e um jardim, com o futuro?
Há ainda um resquício de música,
uma dor fina, um rumor de folhas,
páginas de um livro soltas ao acaso.
Vozes, outras vozes, ansiosas, muitas,
uma comandando, determinada:
Reserve-se a estátua, vamos levá-la.
O mais, derrubem, carreguem os entulhos,
limpem o terreno
e plantem milho em tudo.
-
Dauri Batisti
A estátua no jardim
(quarto poema da série ASPECTUS)
Entardece
cada dia mais,
demoras, mil noites
numa única e triste luz nublada
derramada sobre a relva.
Vê a estátua da ninfa Érato...
O olhar, por detrás do vidro, da janela
como folha seca
vagueia, vagueia, procura,
no jardim não surge
o que se espera, o tudo, o todo.
Todas as coisas marrons, secas,
folhas soltas, anoitece sobre Érato,
a lua não aparece,
ninguém. Só o jardim
e o tempo por ali
em volteios, aspergindo
deboches. Cheiros da noite, húmus,
ação de húmus, humilhação,
nadas, coisa nenhuma espalhada
no livro, no vinho, nas horas,
nos intervalos dos investigantes olhares.
Vê, ei-la, vê que da janela se vê
pelo clarão de uma única lanterna
acesa por fiel servidor
a estátua da ninfa Érato,
vê que ela estende a coroa de rosas,
mas a lira não chora, não canta,
está aos seus pés.
Cala. Cálidas mãos
sobre pele, sobre pontos,
sobrepondo amor em todos os
horizontes do corpo, são saudades.
Ah, se o céu soprar sobre o jardim
um vento benfazejo trazendo quem há de vir,
as cordas ainda serão capazes
de vibrar.
(quarto poema da série ASPECTUS)
Entardece
cada dia mais,
demoras, mil noites
numa única e triste luz nublada
derramada sobre a relva.
Vê a estátua da ninfa Érato...
O olhar, por detrás do vidro, da janela
como folha seca
vagueia, vagueia, procura,
no jardim não surge
o que se espera, o tudo, o todo.
Todas as coisas marrons, secas,
folhas soltas, anoitece sobre Érato,
a lua não aparece,
ninguém. Só o jardim
e o tempo por ali
em volteios, aspergindo
deboches. Cheiros da noite, húmus,
ação de húmus, humilhação,
nadas, coisa nenhuma espalhada
no livro, no vinho, nas horas,
nos intervalos dos investigantes olhares.
Vê, ei-la, vê que da janela se vê
pelo clarão de uma única lanterna
acesa por fiel servidor
a estátua da ninfa Érato,
vê que ela estende a coroa de rosas,
mas a lira não chora, não canta,
está aos seus pés.
Cala. Cálidas mãos
sobre pele, sobre pontos,
sobrepondo amor em todos os
horizontes do corpo, são saudades.
Ah, se o céu soprar sobre o jardim
um vento benfazejo trazendo quem há de vir,
as cordas ainda serão capazes
de vibrar.
-
Dauri Batisti
07 dezembro 2008
O mesmo jardim
(terceiro poema da série ASPECTUS)
Chama miúda, faíscas
quase fuligem.
Rosas romance
desfeitas pétalas
vislumbres de espíritos
caídos, ou anjos.
Frágeis vasos
tudo frágil
o lado de dentro
onde se aporta o ar.
Dói.
Dor em linhas tristes
desenha no rosto
um lugarejo despovoado
um jardim, um jardim
o mesmo jardim, sempre o mesmo jardim
de abandonos.
O dia em pleno sol
vigia os pássaros
para que não cantem.
A festa reservar-se-á para um dia
aquele que ainda vem.
(terceiro poema da série ASPECTUS)
Chama miúda, faíscas
quase fuligem.
Rosas romance
desfeitas pétalas
vislumbres de espíritos
caídos, ou anjos.
Frágeis vasos
tudo frágil
o lado de dentro
onde se aporta o ar.
Dói.
Dor em linhas tristes
desenha no rosto
um lugarejo despovoado
um jardim, um jardim
o mesmo jardim, sempre o mesmo jardim
de abandonos.
O dia em pleno sol
vigia os pássaros
para que não cantem.
A festa reservar-se-á para um dia
aquele que ainda vem.
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Dauri Batisti
06 dezembro 2008
Anseios no jardim
(continuando a série ASPECTUS)
As tardes esgarçam
e repuxam os lados do dia
e alteram o curso dos pés.
Entre a rosa e o espinho
depois da curva na subida
o perto-da-noite derrama seus anseios
no jardim.
Escorre na alma
por detrás da janela bonita, mas fechada
um veio, um frio de gelo, um fio
de água de gelo que vai
lento, lamento, difuso, dor.
O fundo se encharca
de um caldo de acúmulos.
Ali, exato ali, onde se retoma
o fôlego de viver
a cada instante
se encontra o absinto.
Há que se perguntar de onde vem o veio
e qual o mistério, o aspecto
que determina seu deságüe nessas praias
dos territórios perto-da-noite?
Poder-se-ia dizer,
foi o pecado de não ter amado
em uma das tardes passadas
de qualquer segunda-feira santa.
(continuando a série ASPECTUS)
As tardes esgarçam
e repuxam os lados do dia
e alteram o curso dos pés.
Entre a rosa e o espinho
depois da curva na subida
o perto-da-noite derrama seus anseios
no jardim.
Escorre na alma
por detrás da janela bonita, mas fechada
um veio, um frio de gelo, um fio
de água de gelo que vai
lento, lamento, difuso, dor.
O fundo se encharca
de um caldo de acúmulos.
Ali, exato ali, onde se retoma
o fôlego de viver
a cada instante
se encontra o absinto.
Há que se perguntar de onde vem o veio
e qual o mistério, o aspecto
que determina seu deságüe nessas praias
dos territórios perto-da-noite?
Poder-se-ia dizer,
foi o pecado de não ter amado
em uma das tardes passadas
de qualquer segunda-feira santa.
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Dauri Batisti
05 dezembro 2008
Passos no jardim
(iniciando uma nova série: ASPECTUS)
As passadas
e seus ruídos selvagens
no jardim
semearam respingos
espinhos e cardos.
Palavras espadas
labaredas cortantes
traços, retraços, cortes.
A dor de cada um, funda, doía mais que duas
e não havia como não doer.
O que se erguia entre
não era uma distância,
era uma enevoada lonjura.
Longe, longe, longe, lá onde
nem ouvido de mãe
é capaz de ouvir o chamado.
O entre com o tempo ficou tão grande
que passou a ser inexistente
pois que não havia mais ninguém
nem de um lado, nem de outro.
Uns astros do céu
poderiam se conjugar
como verbo de explicação.
Por que tudo acabou assim?
Um amor tão bonito!
No mundo inicial
no tempo dos olhares
só o amor se movimentava no jardim
com passos leves
com sopro de rosas
em pelos eriçados.
(iniciando uma nova série: ASPECTUS)
As passadas
e seus ruídos selvagens
no jardim
semearam respingos
espinhos e cardos.
Palavras espadas
labaredas cortantes
traços, retraços, cortes.
A dor de cada um, funda, doía mais que duas
e não havia como não doer.
O que se erguia entre
não era uma distância,
era uma enevoada lonjura.
Longe, longe, longe, lá onde
nem ouvido de mãe
é capaz de ouvir o chamado.
O entre com o tempo ficou tão grande
que passou a ser inexistente
pois que não havia mais ninguém
nem de um lado, nem de outro.
Uns astros do céu
poderiam se conjugar
como verbo de explicação.
Por que tudo acabou assim?
Um amor tão bonito!
No mundo inicial
no tempo dos olhares
só o amor se movimentava no jardim
com passos leves
com sopro de rosas
em pelos eriçados.
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Dauri Batisti
04 dezembro 2008
O poente
– nada, mãos vazias, banais,
invenção para ocupar tempo,
um verniz que não brilha.
A alma desenha levemente,
em aceitações e desgosto,
os jubilares tempos de so-long, bye-bye.
O que faço? pequenas caminhadas
entre o quarto, a cozinha e este assento ao sol,
e outras mais audaciosas aqui
pelas ruas que me são próximas.
Outro dia vi. Um corpo. Rígido. Reto. Senti.
O quê? Medo. Tu não sentes?
Mas retomei os jogos, a tevê, pequenas tarefas.
Proíbe-me, grito, proíbe-me de falar.
Inoportuno me falo, inútil
me vejo
ouvindo o que não adianta.
Guardo amor, amor, tanto amor, mas ainda assim,
despedaço. Não é suficiente o amor,
a vetustez não tem beleza. Nenhuma.
Uma vez vermelha a fruta,
não lhe sobra outra cor depois
senão uma, aquela que tu sabes.
Perdão, não te assusto,
me assusto. Proíbe-me.
Quando me soube, assim,
extinguindo-me, optei pela ilusão e
desenhei uma vertigem de prazer na queda.
Em libação, caio. O gesto oferente é lindo.
Imagina a taça de vinho, do tinto
vermelho-afogueado, um sol
se pondo, e da borda dourada do cálice
uma gota, eu, caindo. Lindo, não?
Degusto a queda. Sou eu mesmo deus
que sorve sequioso a oblação. Minto.
Tenho outra saída?
O poente me abruma as verdades.
– nada, mãos vazias, banais,
invenção para ocupar tempo,
um verniz que não brilha.
A alma desenha levemente,
em aceitações e desgosto,
os jubilares tempos de so-long, bye-bye.
O que faço? pequenas caminhadas
entre o quarto, a cozinha e este assento ao sol,
e outras mais audaciosas aqui
pelas ruas que me são próximas.
Outro dia vi. Um corpo. Rígido. Reto. Senti.
O quê? Medo. Tu não sentes?
Mas retomei os jogos, a tevê, pequenas tarefas.
Proíbe-me, grito, proíbe-me de falar.
Inoportuno me falo, inútil
me vejo
ouvindo o que não adianta.
Guardo amor, amor, tanto amor, mas ainda assim,
despedaço. Não é suficiente o amor,
a vetustez não tem beleza. Nenhuma.
Uma vez vermelha a fruta,
não lhe sobra outra cor depois
senão uma, aquela que tu sabes.
Perdão, não te assusto,
me assusto. Proíbe-me.
Quando me soube, assim,
extinguindo-me, optei pela ilusão e
desenhei uma vertigem de prazer na queda.
Em libação, caio. O gesto oferente é lindo.
Imagina a taça de vinho, do tinto
vermelho-afogueado, um sol
se pondo, e da borda dourada do cálice
uma gota, eu, caindo. Lindo, não?
Degusto a queda. Sou eu mesmo deus
que sorve sequioso a oblação. Minto.
Tenho outra saída?
O poente me abruma as verdades.
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Dauri Batisti
03 dezembro 2008
Entre a pluma e a pedra
– mãos coroadas por anéis
escondem mares, muitos mares,
amares, amores, anseios de amar,
noamormorar... Desfaças tu o nó
e enlaces a fita do teu jeito.
Vontades? tu insistes nestas perguntas.
Sim, claro, vulcânicas.
Foi arrebatada para o céu a crença
que me fazia pensar quando menino
que tudo seria fácil. A vida,
a trinca sempre deixa
a água escorrer, e o peso dos passos
sempre marca os rastros que ficam.
Os insondáveis mistérios dos desejos
se dão em claras mostras, trajetos,
trejeitos que não têm ensaio.
Torna-se um líquido, a vida,
um desaguadouro que logra olhares,
piadas e humilhações. Mas fico assim,
como tu vês, lindo vestido,
atravessado, travessia que faço,
para ser outra,
a mesma pessoa,
frágil e forte no entremeio
da timidez e do deslumbre,
da coragem e da agonia.
Sim, sim, sem drama,
é preciso ler a própria sina
como se alheia fosse,
e é aí,
tu também podes dizer,
no fugaz espaço entre a pluma e a pedra
que tu te atreves a ser feliz.
– mãos coroadas por anéis
escondem mares, muitos mares,
amares, amores, anseios de amar,
noamormorar... Desfaças tu o nó
e enlaces a fita do teu jeito.
Vontades? tu insistes nestas perguntas.
Sim, claro, vulcânicas.
Foi arrebatada para o céu a crença
que me fazia pensar quando menino
que tudo seria fácil. A vida,
a trinca sempre deixa
a água escorrer, e o peso dos passos
sempre marca os rastros que ficam.
Os insondáveis mistérios dos desejos
se dão em claras mostras, trajetos,
trejeitos que não têm ensaio.
Torna-se um líquido, a vida,
um desaguadouro que logra olhares,
piadas e humilhações. Mas fico assim,
como tu vês, lindo vestido,
atravessado, travessia que faço,
para ser outra,
a mesma pessoa,
frágil e forte no entremeio
da timidez e do deslumbre,
da coragem e da agonia.
Sim, sim, sem drama,
é preciso ler a própria sina
como se alheia fosse,
e é aí,
tu também podes dizer,
no fugaz espaço entre a pluma e a pedra
que tu te atreves a ser feliz.
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Dauri Batisti
02 dezembro 2008
Imerecido reverso de lucidez
– carrego noturna altivez,
imerecido reverso de lucidez
e imprudências de palavras
que desgovernam ela essa quando fala,
ela não pára, curva, ando, ando, ando
e, as vezes, parece que desando
em caminhos em que vejo, sem pena,
os suplícios e centelhas
de alguém essa que já fui.
Essa fui enfermeira
de maior competência, muito cuidei
de muita gente, de dor, de ais. Mas, não,
não sei, algo explodiu no céu bem longe
ou perto na alma bem fundo. Desamei.
Pode ter sido também porque a gata
teve sete gatinhos naquela sexta-feira,
morreram todos na chuva.
É. Desamei. Eles dizem que enlouqueci.
Estão enganados, não entendem,
desamei. Ninguém sabe o que é desamar.
Este é o problema. Ela essa desamou,
e depois que desamei
ganhei noturna altivez e força de andar.
Não sei a partir de quando desamei,
mas desamar foi o jeito de resolver,
ela essa não é boba. Ela anda.
Resolver o quê? A vida, ora.
– carrego noturna altivez,
imerecido reverso de lucidez
e imprudências de palavras
que desgovernam ela essa quando fala,
ela não pára, curva, ando, ando, ando
e, as vezes, parece que desando
em caminhos em que vejo, sem pena,
os suplícios e centelhas
de alguém essa que já fui.
Essa fui enfermeira
de maior competência, muito cuidei
de muita gente, de dor, de ais. Mas, não,
não sei, algo explodiu no céu bem longe
ou perto na alma bem fundo. Desamei.
Pode ter sido também porque a gata
teve sete gatinhos naquela sexta-feira,
morreram todos na chuva.
É. Desamei. Eles dizem que enlouqueci.
Estão enganados, não entendem,
desamei. Ninguém sabe o que é desamar.
Este é o problema. Ela essa desamou,
e depois que desamei
ganhei noturna altivez e força de andar.
Não sei a partir de quando desamei,
mas desamar foi o jeito de resolver,
ela essa não é boba. Ela anda.
Resolver o quê? A vida, ora.
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Dauri Batisti
01 dezembro 2008
Na calçada
– fico aqui na calçada,
me basto com olhos
o dia inteiro, sem amor,
sem ódio. Fico aqui.
Qualquer dia haverá
de ser diferente.
Perguntarão,
onde está a velha
que aqui vendia balas?
Dirão: morreu. Fico aqui.
Vendo balas, bombons,
paçocas, jujubas. Nada,
é pouco lucro, mas afinal,
de besteiras vive um pobre,
o que vende, o que compra.
O ouro em mim é o que penso,
e em tu também,
mesmo que tenhas mais,
bem mais. Tardes claras, a vida,
manhãs nubladas, qualquer
tempo é um sopro. Já foi dito.
Interroga-me. Teu silêncio
me incomoda. Basta-me
o que sinto. Áspera é a pedra
onde apoio os meus pés.
– fico aqui na calçada,
me basto com olhos
o dia inteiro, sem amor,
sem ódio. Fico aqui.
Qualquer dia haverá
de ser diferente.
Perguntarão,
onde está a velha
que aqui vendia balas?
Dirão: morreu. Fico aqui.
Vendo balas, bombons,
paçocas, jujubas. Nada,
é pouco lucro, mas afinal,
de besteiras vive um pobre,
o que vende, o que compra.
O ouro em mim é o que penso,
e em tu também,
mesmo que tenhas mais,
bem mais. Tardes claras, a vida,
manhãs nubladas, qualquer
tempo é um sopro. Já foi dito.
Interroga-me. Teu silêncio
me incomoda. Basta-me
o que sinto. Áspera é a pedra
onde apoio os meus pés.
-
Dauri Batisti
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