Fragmentos de um coração que busca visões
Desato a andar,
sigo pela praia,
subo o piraqueaçu,
remo, remo,
vou seguindo rio acima
para dentro do coração da terra.
O mar vai ficando, ficando,
as visões ainda são sonhos
dentro de mim, não me podem aparecer.
Largo a canoa, sigo a pé,
quando o caminho fizer a curva,
na hora certa, vou pender
pro lado do coração.
Oferecerei e plantarei meus sonhos,
a terra carinhosamente responderá.
... e depois eu ouvi,
retorna às montanhas,
abre o sol da porta e atravessa o deserto.
Não te assustes com o brilho
e com as sombras.
Toma a trilha do lagarto e
volta.
Encontrarás um vento forte
que te aliviará de dores guardadas
e te sentirás com os pés
firmes no chão.
Volta,
retorna para os montes.
Quando o lagarto cruzar com teus passos
terás uma possibilidade
de estar no lugar certo de uma visão.
13 novembro 2008
11 novembro 2008
Vísceras do mundo, visões benditas
Saio pela tarde limpa depois da chuva,
me respingo de anseios, velhas agonias.
Algo me leva ali, logo mais ali, ali, nem quero ir.
Estou sempre perto de todo mundo
e já vou distante do ultimo olhar.
Vou me esconder, vou calar, vou procurar
as vísceras do mundo, visões benditas.
O que vejo é a folha da imbaúba, verde e prata
e acho, posso, ali, fazer cruzar a linha do espírito
com a linha das minhas tripas e rins e ver.
Fico, e não vejo, vejo a folha da imbaúba
que vira e desvira, ora prata, ora verde. Recordo-me,
as visões podem se ancorar em qualquer insignificância.
Fico, olhar fixo, nada, nada, desanimo, penso,
a tarde é triste, anoitece, eu sozinho, desolado,
quero voltar para o barulho das crianças,
ver minhas crianças, minhas alegrias.
Começo a cantar o velho canto que surge do nada,
do tudo que já vivi. Olho para a imbaúba, longa,
ela também tem a mesma sina, ela só é
o outro modo do mesmo espírito que me vaza
e me derrama líquido em forma errada, de gente,
quando quero vôos altos, de águias
ou rasteios de serpentes. Recolho-me em mim.
Canto. Algo se dissolve. Canto os velhos cantos
em lamentos, em louvor. Escorre.
O canto vai se ajustando ao rumor do coração
me solto, me desprendo, subo, subo, subo
mais alto que a imbaúba e escuto o mundo
e todos os sons formando uma só canção
que canta minhas lágrimas e meus risos.
Saio pela tarde limpa depois da chuva,
me respingo de anseios, velhas agonias.
Algo me leva ali, logo mais ali, ali, nem quero ir.
Estou sempre perto de todo mundo
e já vou distante do ultimo olhar.
Vou me esconder, vou calar, vou procurar
as vísceras do mundo, visões benditas.
O que vejo é a folha da imbaúba, verde e prata
e acho, posso, ali, fazer cruzar a linha do espírito
com a linha das minhas tripas e rins e ver.
Fico, e não vejo, vejo a folha da imbaúba
que vira e desvira, ora prata, ora verde. Recordo-me,
as visões podem se ancorar em qualquer insignificância.
Fico, olhar fixo, nada, nada, desanimo, penso,
a tarde é triste, anoitece, eu sozinho, desolado,
quero voltar para o barulho das crianças,
ver minhas crianças, minhas alegrias.
Começo a cantar o velho canto que surge do nada,
do tudo que já vivi. Olho para a imbaúba, longa,
ela também tem a mesma sina, ela só é
o outro modo do mesmo espírito que me vaza
e me derrama líquido em forma errada, de gente,
quando quero vôos altos, de águias
ou rasteios de serpentes. Recolho-me em mim.
Canto. Algo se dissolve. Canto os velhos cantos
em lamentos, em louvor. Escorre.
O canto vai se ajustando ao rumor do coração
me solto, me desprendo, subo, subo, subo
mais alto que a imbaúba e escuto o mundo
e todos os sons formando uma só canção
que canta minhas lágrimas e meus risos.
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Dauri Batisti
10 novembro 2008
Primeiras palavras - titubeantes - do que busca visões.
Aconteceu, acontece.
As visões eram tão claras,
mas, anoitece. Ouço tão bem.
A chave. A porta se fechou.
Espero, procuro, busco
até que uma visão me pegue
indefeso no deserto,
ou remando minha canoa...
Não sei se devo falar, falo, me atraso
talvez, ter visões implica em calar,
escutar. Aconteceu, já aconteceu,
mas ainda acontecerá,
acredito, nas jornadas que tento,
que passo, que me vou.
Um olho, caolho, o do dia,
me treina para ver as coisas retas;
vem o outro, da noite,
caolho também, e me treina
para ver as convexas, não menos certas.
Me mantenho em atençao. Canto.
Meu propósito, visões. Canto.
Agora sou este que via e deixou de ver,
o que anda e ouve. Ouço tão bem, vivo
destes desejos de visões,
ou... obrigações de visões.
Elas me aguardam em seu lugar.
Eu devo estar fora do meu. Canto.
Visões, poesia, para quê?
Para onde correm
estes filhos de homens?
Não querem visões,
mas choram olhos de ardência,
desejos. Violência... Oh!
Para ir lá onde elas estão percorro longas distâncias
caminhos que ando, escolhi o leste. Arrisquei.
Confundirei visões com luz de frente, nascente?
Ouço essa música de temores, dores,
os alicerces abalados.
Tenho medo...
Não, o som é do vazio
que se faz cheio. A música
dos inícios,
do alegre fogo recém aceso.
Ouço.
Ouvir...
pode já ser a barulho da porta
que se abre.
Aconteceu, acontece.
As visões eram tão claras,
mas, anoitece. Ouço tão bem.
A chave. A porta se fechou.
Espero, procuro, busco
até que uma visão me pegue
indefeso no deserto,
ou remando minha canoa...
Não sei se devo falar, falo, me atraso
talvez, ter visões implica em calar,
escutar. Aconteceu, já aconteceu,
mas ainda acontecerá,
acredito, nas jornadas que tento,
que passo, que me vou.
Um olho, caolho, o do dia,
me treina para ver as coisas retas;
vem o outro, da noite,
caolho também, e me treina
para ver as convexas, não menos certas.
Me mantenho em atençao. Canto.
Meu propósito, visões. Canto.
Agora sou este que via e deixou de ver,
o que anda e ouve. Ouço tão bem, vivo
destes desejos de visões,
ou... obrigações de visões.
Elas me aguardam em seu lugar.
Eu devo estar fora do meu. Canto.
Visões, poesia, para quê?
Para onde correm
estes filhos de homens?
Não querem visões,
mas choram olhos de ardência,
desejos. Violência... Oh!
Para ir lá onde elas estão percorro longas distâncias
caminhos que ando, escolhi o leste. Arrisquei.
Confundirei visões com luz de frente, nascente?
Ouço essa música de temores, dores,
os alicerces abalados.
Tenho medo...
Não, o som é do vazio
que se faz cheio. A música
dos inícios,
do alegre fogo recém aceso.
Ouço.
Ouvir...
pode já ser a barulho da porta
que se abre.
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Dauri Batisti
07 novembro 2008
Encontrando o remédio
(encerrando os poemas do curador)
Salto, esperto, desperto,
amanheço atrasado e escondido
sobre o olho que me viu com a onça.
Rasgo com a lança o círculo no chão
repartindo o centro da flor em pedaços,
a flor do olho, o espaço em quatro
e sobre cada quarto eu permito que o sol
me chame a atenção, a coragem, o ânimo
e levante meus pés para a dança.
Um quarto do olho me enche de ipê-amor,
a outra parte da flor me angico-purifica,
o outro quarto me abre para novo copaíba-saber,
o último me confirma, me altera, me revela
o espírito urucum vermelho nas mãos e um,
um vento, um cheiro, um tambor por dentro que diz:
o que chora, o que se agita ainda espera por ti,
já é hora, volta, volta onça correndo homem,
antes que te esqueças a ternura e a quentura
da fonte que correu para a tua mão. Cura!
(encerrando os poemas do curador)
Salto, esperto, desperto,
amanheço atrasado e escondido
sobre o olho que me viu com a onça.
Rasgo com a lança o círculo no chão
repartindo o centro da flor em pedaços,
a flor do olho, o espaço em quatro
e sobre cada quarto eu permito que o sol
me chame a atenção, a coragem, o ânimo
e levante meus pés para a dança.
Um quarto do olho me enche de ipê-amor,
a outra parte da flor me angico-purifica,
o outro quarto me abre para novo copaíba-saber,
o último me confirma, me altera, me revela
o espírito urucum vermelho nas mãos e um,
um vento, um cheiro, um tambor por dentro que diz:
o que chora, o que se agita ainda espera por ti,
já é hora, volta, volta onça correndo homem,
antes que te esqueças a ternura e a quentura
da fonte que correu para a tua mão. Cura!
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Dauri Batisti
06 novembro 2008
Um bicho poderoso de quatro patas
(buscando o remédio)
Traço no chão com cuidado o mundo do meu olho,
dentro dele me deito com as mãos sobre o peito.
Relembro os passos com o gavião,
o sol, os riachos, os pássaros.
Recordo as andanças com o bacurau,
o céu, as sombras, os astros.
Mas o remédio se esconde talvez
nos silêncios das planícies e charcos;
ou antes, ou depois, ou debaixo
de cada passo, de cada pensamento,
ou dentro, quem sabe, da percussão do tambor.
Dor, amor, destino,
tudo amarrado num único nó.
Medito deitado: o que quero?
Reavivar alguns sonhos e ser um com eles,
descansar sobre folhas perfumadas,
me acalentar com histórias que ouvia quando menino.
Durmo não durmo. Duvido. Me deixo levar.
No escuro, sozinho, me retraio, me encolho.
Mas vejo... Sim, vejo... Penso que vejo
entre as fogueiras no céu e as fumaças na terra
um bicho poderoso de quatro patas.
Oh! Uma onça?
Uma onça que me mata...
não, que me marca
com quatro tiras de sangue no braço,
fontes que escorrem para dentro da minha mão.
(buscando o remédio)
Traço no chão com cuidado o mundo do meu olho,
dentro dele me deito com as mãos sobre o peito.
Relembro os passos com o gavião,
o sol, os riachos, os pássaros.
Recordo as andanças com o bacurau,
o céu, as sombras, os astros.
Mas o remédio se esconde talvez
nos silêncios das planícies e charcos;
ou antes, ou depois, ou debaixo
de cada passo, de cada pensamento,
ou dentro, quem sabe, da percussão do tambor.
Dor, amor, destino,
tudo amarrado num único nó.
Medito deitado: o que quero?
Reavivar alguns sonhos e ser um com eles,
descansar sobre folhas perfumadas,
me acalentar com histórias que ouvia quando menino.
Durmo não durmo. Duvido. Me deixo levar.
No escuro, sozinho, me retraio, me encolho.
Mas vejo... Sim, vejo... Penso que vejo
entre as fogueiras no céu e as fumaças na terra
um bicho poderoso de quatro patas.
Oh! Uma onça?
Uma onça que me mata...
não, que me marca
com quatro tiras de sangue no braço,
fontes que escorrem para dentro da minha mão.
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Dauri Batisti
05 novembro 2008
Buscando o remédio
Tropeço, caio, desajeito meus esquadros
sigo estes passos, espaço entre eles
sementes e ventos de bons pensamentos
que robustecem meus nervos.
O que chora, o que se agita espera por mim.
A febre maldita, as dores, os ais
me caem na mente com baque de chumbo,
no fundo, no fundo me determino ainda mais.
A paz que não tenho, só é paz nos meus passos,
na busca que faço o jeito é seguir, impossível não ir.
No destino a senda, a sina, a solidão e não desistir.
O cruzeiro luminoso se agarra em meus olhos,
me guia no escuro, me ensina o caminho do sul,
mas na busca não danço, me canso, não encontro
a árvore, o cipó, a resina, a folha, a raiz.
Tropeço, caio, desajeito meus esquadros
sigo estes passos, espaço entre eles
sementes e ventos de bons pensamentos
que robustecem meus nervos.
O que chora, o que se agita espera por mim.
A febre maldita, as dores, os ais
me caem na mente com baque de chumbo,
no fundo, no fundo me determino ainda mais.
A paz que não tenho, só é paz nos meus passos,
na busca que faço o jeito é seguir, impossível não ir.
No destino a senda, a sina, a solidão e não desistir.
O cruzeiro luminoso se agarra em meus olhos,
me guia no escuro, me ensina o caminho do sul,
mas na busca não danço, me canso, não encontro
a árvore, o cipó, a resina, a folha, a raiz.
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Dauri Batisti
04 novembro 2008
O azulão me autoriza
Um desejo, fugir,
no entanto, aqui me ponho de pé, presente.
Estabeleço os olhos nas montanhas ao norte,
doem-me os ossos, permaneço de pé,
jacarandá, sucupira, peroba.
O pensamento veloz me diz,
honra e respeito no primeiro olhar,
honra e respeito no segundo olhar.
Penso outro pensar sem saber o que penso,
suponho, devo olhar pelos olhos dos pássaros.
O pensamento veloz me diz,
o olhar que se demora em carinhos
contorna todos os lados
e derrama-se para dentro,
nos dentros mundos dos olhos.
Lá se enxergará a palavra certa
e com ela deve-se descer ao fundo
ao fundo do fogo, à brasa,
ao vermelho, ao sangue,
então se dirá o que se quer dizer,
então se dirá exatamente a leveza,
o perfume, a cor do que se quer dizer.
Estremeço calado. O sol cai
e não há alegria. Nem inspiração.
O pensamento veloz diz,
dança o circulo que desenhaste
sem deixar que passem as horas.
Pára o universo com o chocalho.
Danço, danço, danço
nas estrelas, nos cometas
nas ardências da fogueira,
enquanto me entra pelas narinas
um ar frio de chuva fina
e me torno amor, brejo, beijo,
brasa, flor, azul, natural,
igual à tudo que me rodeia,
pedra, gravetos, folhas, lagarto.
Endendo-me, tenho a chave
num breve e doce momento.
Na madrugada quando o fogo se apaga,
o azulão se arrodeia de mim
e canta uma força que me autoriza: diz!
Eu digo.
Um desejo, fugir,
no entanto, aqui me ponho de pé, presente.
Estabeleço os olhos nas montanhas ao norte,
doem-me os ossos, permaneço de pé,
jacarandá, sucupira, peroba.
O pensamento veloz me diz,
honra e respeito no primeiro olhar,
honra e respeito no segundo olhar.
Penso outro pensar sem saber o que penso,
suponho, devo olhar pelos olhos dos pássaros.
O pensamento veloz me diz,
o olhar que se demora em carinhos
contorna todos os lados
e derrama-se para dentro,
nos dentros mundos dos olhos.
Lá se enxergará a palavra certa
e com ela deve-se descer ao fundo
ao fundo do fogo, à brasa,
ao vermelho, ao sangue,
então se dirá o que se quer dizer,
então se dirá exatamente a leveza,
o perfume, a cor do que se quer dizer.
Estremeço calado. O sol cai
e não há alegria. Nem inspiração.
O pensamento veloz diz,
dança o circulo que desenhaste
sem deixar que passem as horas.
Pára o universo com o chocalho.
Danço, danço, danço
nas estrelas, nos cometas
nas ardências da fogueira,
enquanto me entra pelas narinas
um ar frio de chuva fina
e me torno amor, brejo, beijo,
brasa, flor, azul, natural,
igual à tudo que me rodeia,
pedra, gravetos, folhas, lagarto.
Endendo-me, tenho a chave
num breve e doce momento.
Na madrugada quando o fogo se apaga,
o azulão se arrodeia de mim
e canta uma força que me autoriza: diz!
Eu digo.
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Dauri Batisti
03 novembro 2008
Outro pássaro, o que reergue o sol
Vou, quebro, digo,
este vaso, esta taça
este vidro. Vem comigo?
Solto o pássaro
que voa tão perto
e me canta aos ouvidos
os segredos antigos.
Vou, não me impedirei.
Tenho que ter pressa,
o perfume já sobe
e não há quem o sinta.
Tudo será outra coisa,
areia e pó,
se a palavra não for dita
com o canto certo.
Canta comigo?
Quebro o que espera
ser dia, já me vou cansado
das noites. Deixei
de lado a dança
para guardar este vaso
sem poção, sem água,
sem transformações.
A secura me persegue,
basta.
Mistura de ervas,
é o que farei
num novo vaso,
ou no mesmo, o antigo,
descascado,
como fruta aos lábios,
onde deambularei a mistura
até acontecer...
Dançarei
o círculo que
eu mesmo risquei.
Vou, quebro, digo,
dança comigo?
Ouço que me canta ao ouvido
outro pássaro,
que já reergue o sol,
o pintassilgo.
Vou, quebro, digo,
este vaso, esta taça
este vidro. Vem comigo?
Solto o pássaro
que voa tão perto
e me canta aos ouvidos
os segredos antigos.
Vou, não me impedirei.
Tenho que ter pressa,
o perfume já sobe
e não há quem o sinta.
Tudo será outra coisa,
areia e pó,
se a palavra não for dita
com o canto certo.
Canta comigo?
Quebro o que espera
ser dia, já me vou cansado
das noites. Deixei
de lado a dança
para guardar este vaso
sem poção, sem água,
sem transformações.
A secura me persegue,
basta.
Mistura de ervas,
é o que farei
num novo vaso,
ou no mesmo, o antigo,
descascado,
como fruta aos lábios,
onde deambularei a mistura
até acontecer...
Dançarei
o círculo que
eu mesmo risquei.
Vou, quebro, digo,
dança comigo?
Ouço que me canta ao ouvido
outro pássaro,
que já reergue o sol,
o pintassilgo.
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Dauri Batisti
02 novembro 2008
A chave
A chave, a sorte,
dos montes aos vales
eu busco com pressa,
mas ando por passos,
olhando os sonhos
que o horizonte amplia.
Profundas raízes,
muitos nomes tocando-me,
dizendo quem sou,
desejando meus passos,
seduzindo-me
em peripécias e círculos.
Encontro o curió,
presença e inspiração.
O tempo cantando e indo
em várias direções
não é o curió,
tenho dúvidas.
É outro pássaro menor,
ainda mais bonito e leve,
canto de fogo em metal líquido
que escorre para as águas
de um rio, o rio perdido.
Encontro uma chave.
Estabeleci com seixos
o altar da gratidão e oficiei o rito,
mas quando abri aquela entrada,
no instante em que me vi
nas transparências do rio,
vi outra porta fechada.
A chave, a sorte,
dos montes aos vales
eu busco com pressa,
mas ando por passos,
olhando os sonhos
que o horizonte amplia.
Profundas raízes,
muitos nomes tocando-me,
dizendo quem sou,
desejando meus passos,
seduzindo-me
em peripécias e círculos.
Encontro o curió,
presença e inspiração.
O tempo cantando e indo
em várias direções
não é o curió,
tenho dúvidas.
É outro pássaro menor,
ainda mais bonito e leve,
canto de fogo em metal líquido
que escorre para as águas
de um rio, o rio perdido.
Encontro uma chave.
Estabeleci com seixos
o altar da gratidão e oficiei o rito,
mas quando abri aquela entrada,
no instante em que me vi
nas transparências do rio,
vi outra porta fechada.
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Dauri Batisti
01 novembro 2008
É assim mesmo o amor?
Já não sei onde me procuro.
Em mim estás, mas não me encontro mais
em teus olhos.
Em cada procura da alma afoita,
na minha pele mais alva, de timidez, escondida,
no horizonte de encontro dos lábios em prece,
...estás.
Nos cheiros que o coração me faz transpirar,
nos recantos do ouvido que aguardam sussurros,
nos vales e rios de carinhos da ponta dos dedos,
...estás.
No gesto de abraço que precede o sorriso,
no rumor gutural que se transforma em voz no eu te amo,
no arrepio, na base de cada pêlo eriçado,
...estás.
Nas pequenas salas em que se distinguem sabores na língua,
na maré dos oceanos de olhares voluptuosos,
no fluxo vulcânico de sangue, de amor, rijo,
...estás.
Estás em mim e não entendo
por que não me encontro mais
em teus olhos.
Teus olhos tão claros
não de cor, escuros que são,
mas claros de amor, agora são turvos.
Esgoto-me de olhar e não vejo reflexo
em lugar nenhum, como se o sol,
um outro, de dentro,
de lá não mandasse mais brilho e calor.
Tu me tentas convencer dizendo
que é o mesmo o amor que me tens,
me tratas com tanto carinho,
há uma ternura tão linda no teu jeito de falar
que sinto vontade de ficar,
ficar, ficar, ficar ao teu lado.
Mas...
mas onde andei foi em caminhos de brasas
e sei que em cinzas agora é que piso.
(É assim mesmo o amor? ...Fênix?
Um universo se acabando
e outro, diferente, surgindo, estranho).
Já não sei onde me procuro.
Em mim estás, mas não me encontro mais
em teus olhos.
Em cada procura da alma afoita,
na minha pele mais alva, de timidez, escondida,
no horizonte de encontro dos lábios em prece,
...estás.
Nos cheiros que o coração me faz transpirar,
nos recantos do ouvido que aguardam sussurros,
nos vales e rios de carinhos da ponta dos dedos,
...estás.
No gesto de abraço que precede o sorriso,
no rumor gutural que se transforma em voz no eu te amo,
no arrepio, na base de cada pêlo eriçado,
...estás.
Nas pequenas salas em que se distinguem sabores na língua,
na maré dos oceanos de olhares voluptuosos,
no fluxo vulcânico de sangue, de amor, rijo,
...estás.
Estás em mim e não entendo
por que não me encontro mais
em teus olhos.
Teus olhos tão claros
não de cor, escuros que são,
mas claros de amor, agora são turvos.
Esgoto-me de olhar e não vejo reflexo
em lugar nenhum, como se o sol,
um outro, de dentro,
de lá não mandasse mais brilho e calor.
Tu me tentas convencer dizendo
que é o mesmo o amor que me tens,
me tratas com tanto carinho,
há uma ternura tão linda no teu jeito de falar
que sinto vontade de ficar,
ficar, ficar, ficar ao teu lado.
Mas...
mas onde andei foi em caminhos de brasas
e sei que em cinzas agora é que piso.
(É assim mesmo o amor? ...Fênix?
Um universo se acabando
e outro, diferente, surgindo, estranho).
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Dauri Batisti
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